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21 de dezembro de 2007

 

Fim de ano



É isso aí, pessoal. Como acontece com grande parte dos blogs nessa época do ano em que as visitas são mais escassas a gente dá uma fechada pra balanço. Blogueiro também tem família e quer passar o fim de ano com ela.

Minha estadia no Brasil está terminando, dia 9 de Janeiro voltarei pra Espanha, e chegando lá me mudarei para outra cidade, o que significa contratar outra linha de telefone e outro provedor de internet, o que significa que não estarei apto a postar coisas novas aqui nessa bagaça até me estabilizar na nova cidade, algo em torno do fim de Janeiro.

No mais, desejo a vocês leitores um Feliz Natal, um bom fim de ano, e deixo aquele velho aviso de que há dois anos de material guardado nos arquivos desse blog, duvido que vocês já tenham lido tudo, e essa época de seca é boa pra quem chegou há pouco tempo dar uma conferida geral no blog enquanto material novo não chega.

Semana passada eu estava num ônibus e sentaram duas meninas lindas na poltrona da frente. Ficaram ali batendo papo até que chegou o ponto delas e elas desceram. Foi só o ônibus arrancar que um carinha gritou lá de trás:

- Quem olha assim pensa até que elas gostam de homem! isso aí gosta é de mulher! Mulher só gosta de três coisas: carro, dinheiro e outra mulher.

Falou bem alto, como se conhecesse o ônibus inteiro, ninguém lhe deu atenção direta, mas todo mundo estava se divertindo com seu veredicto. Ele continuou o discurso dizendo que um perneta vesgo com dinheiro tem mais chances de pegar mulher do que um bonitão sem grana, relembrou o caso do ganhador da Mega-Sena assassinado pela esposa e continuou o discurso chegando, sabe-se lá como, ao fato de que Sílvio Santos era maçom e judeu, e que Xuxa com Lucinano Zafir era uma ligação de um judeu com uma satanista.

Agradeci aos céus pelo situações surpresas divertidas que a vida nos traz e cheguei à conclusão de que se você passar duas horas por dia num ônibus com um caderninho pra anotar tudo que observa, vai ter material suficiente pra um livro em menos de um ano. Alguém se habilita? Só não se esqueçam de me dar os créditos pela idéia.

Eu sei, esse lance do ônibus não tem nada a ver com o que eu estava falando, mas não quis me despedir sem essa.

Valeu.




6 de dezembro de 2007

 

Meme dos cinco




Anda rolando um meme por aí que pede pra os blogueiros indicarem cinco blogs que eles recomendam. Dois blogs que receberam esse meme me indicaram no Top 5 - Vale ressaltar que a idéia e indicar 5 blogs desconhecidos, senão não entraria -

Como é falta de educação não repassar o meme, cá farei meu clube dos cinco. Como fui indicado por dois blogs indicáveis e sou adepto da reciprocidade, colocarei os dois que me escolheram na lista, sobrando assim apenas três vagas, que darei para os contistas Hemetério, Nádia e Lisandra Coelho. Tutti buona genti! Pra quem gosta de rebuscar novos autores na net, recomendo. Ficou assim:

1 - Clavatown

2 - Crônicas do Joel

3 - Hemetério

4 - Lisandra Coelho

5 - Exilio Paradiso


 

Baseado em fatos reais






Meu abismo, meu abrigo
(autor: El hombre maíz)

O metrô foi enchendo pouco a pouco. Ele que já estava de pé desde que entrara, a cada nova estação era obrigado a se recolher mais para o centro do vagão para deixar espaço aos que entravam, sempre muito superiores aos que saíam.

Entre uma estação e outra, quando os presentes já estavam acomodados e a máquina em movimento, ele tentava encontrá-la com o olhar. Passara toda a viagem observando-a ocasionalmente, chegou inclusive a ser flagrado, mas não se intimidou. Sem perceber, cada vez que se aproximava do centro do vagão, se aproximava dela, que já ubicada no meio, não tinha por onde correr para ceder espaço aos novos tripulantes.

Chegou a estação mais movimentada e a avalanche de trabalhadores empurrou o rapaz definitivamente para o lado da moça. Ele porém, num descuido, baixou seus braços para apalpar a carteira no bolso, e ao terminar a averiguação percebeu que a barra de apoio na qual se sustentara durante a viagem estava totalmente ocupada pelas novas mãos que ali entraram. Dobrou levemente os joelhos pra não perder o equilíbrio na arrancada do trem, e quando este já se movimentava comentou para si, como se esperasse resposta:

- Eu não tenho mais onde me segurar...

Ela cavou uma brecha na barra de sustentação, e lhe indicou secamente, mas solidária:

- Aqui.

Ele sorriu, e continuou:

- Não é isso. Digo que não tenho mais onde me segurar na vida. Família, trabalho, amigos, casamento... todas essas bases nas quais nos apoiamos nas horas difíceis me são omissas ou me trazem mais problemas. O episódio das barras de apoio do metrô acaba de me trazer essa constatação.

Ela, que ouvira tudo olhando-lhe nos olhos, abaixou a cabeça confusa. Logo, movida pela curiosidade, quis continuar e voltou a encará-lo.

- E então, como você ainda não caiu?

- Vou me equilibrando. Um bom livro, um bom filme, um dia de sol ... ontem, por exemplo, meu time ganhou. Três a zero! Mas pode ser que semana que vem a gente perca, já que todo o meio-campo levou o terceiro cartão e vamos ter que usar os reservas. Enfim, são coisas que ajudam a me equilibrar, mas que não me aguentarão numa freada brusca.

Ela não sabia se deveria sorrir, tudo aquilo era muito estranho. Ele a observava sem trégua desde que começara a falar. Ela baixou a cabeça novamente com o riso preso, não aguentou e soltou uma risada afogada, dessa vez olhando para cima, sem mirá-lo. Soltou a mão da barra de apoio com a palma virada para cima como se suplicara e acrescentou:

- Eu também não tenho nada pra poder me segurar.

Baixou a cabeça novamente ainda sorrindo. Quando voltou a encará-lo já estavam apaixonados.

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5 de dezembro de 2007

 

Desafio dos blogueiros contistas






Finalmente terminei o desafio de Zarastrutas. Tinha que escrever um conto com garota de programa, lebre e Ernest Hemingway.




The cow went to the swamp
(autor: El hombre maíz)


Era o princípio da década de 50, quando conheci o escritor norte-americano Ernest Hemingway durante uma viagem a Havana. Estava no seu bar favorito, o do Hotel Ambos Mundos tomando um mojito e decidi puxar assunto. Falamos das agitações socialistas que tomavam o país e Hemingway recordava episódios do tempo que lutou na guerra civil espanhola.

Foi aí que ela entrou no salão, Lola. Uma mulata cubana que não fazia a mínima questão de esconder sua condição de garota de programa, ao contrário parecia desfrutar dela. Hipnotizara o salão com seu porte de modelo, alta, de postura erecta, com ombros largos e seu corpo atlético, talvez atlético demais, muito atlético mesmo. Chegava a lembrar um pouco o Dida, mas um pouco menos feminino.

Hemingway, um mulherengo incurável, ficou ali obcecado assistindo Lola se aproximar passo a passo do balcão onde nos sentáramos. Ofereceu um Martini à moça, mas ela preferiu whisky, dose dupla, sem gelo. Bebeu de golpe sem mirar os olhares pecaminosos do escritor. Logo, virou-se:

- Me llamo Lola. Pero hay quien me llame como o mar

O poeta ruborizou-se com as palavras da mulata. "Linda e poetiza", pensava. "Há quem me chame como o mar", suspirava. Não haveria mesmo comparação mais acertada. Lola era escura, profunda, misteriosa, imprevisível, assim como o mar. Eu também me surpreendi com as palavras da biscate, que compreendi apesar de, na época, ainda não dominar o idioma espanhol.

Virei-me para o lado e deixei os dois conversando sossegados, não queria intrometer. As palavras de Lola ainda saculejavam pela minha cabeça "Hay quien me llame como o mar". Refletia sobre a beleza da língua espanhola, sobre o como uma frase simples tomava outras proporções quando ditas em tal idioma, lembrava do encanto das minhas primeiras aulas de castelhano, quando me surgiu a duvida: O mar? O certo não seria El mar?

Aquilo era incompreensível, um brasileiro bilingue poderia confundir o artigo definido da língua portuguesa com o da língua espanhola, mas uma cubana que só fala seu idioma, jamais. Seria Lola uma brasileira? Jamais, com aquele sotaque! Foi então que compreendi o absurdo da situação! Então ela era..ela era ...

Queria dizer a Hemingway o que achava de Lola, mas ela estava ali ao lado, com seus ombros largos e seu porte atlético, atlético demais, muito atlético mesmo. Podia dizer em inglês, mas uma garota de programa cubana está acostumada a atender gringos, poderia ter noções do idioma dos vizinhos do norte. Foi então que pensei em maquiar a informação, codificá-la de uma maneira que apenas o escritor reconhecesse, apenas alguém culto acostumado com as figuras de linguagem e os ditos e expressões populares. "Está levando gato por lebre", pensei.

- You are taking a cat as a hare.

Disse convicto, sem pestanejar, para que me levasse a sério, mas o máximo que consegui foi um olhar de espanto dos dois. Lola virou a cara enfadada, Hemingway continou fitando-me os olhos. Repeti suplicante:

- You think it's a hare, but it's a cat. Believe-me

Lola parecia ter descoberto minhas desconfianças e levantou-se bruscamente, puxando Hemingway pelo braço. Pensei em contê-lo, puxá-lo pelo outro braço, mas o porte atlético, muito atlético mesmo de Lola me intimidou. Saíram os dois em busca de privacidade, eu pedi um dry martini pra afundar as mágoas que já sentia pela sorte do gringo. "Now, the cow went to the swamp", pensei.

Alguns podem achar que fui covarde em não ter ido mais longe na tentativa de salvar a dignidade do nobel de literatura, mas me sinto no direito de ter minhas limitações e meus medos, afinal, assim como Lola, sou apenas um homem. O fato é que no dia seguinte voltei ao bar do Hotel e encontrei Hemingway com uma expressão dúbia, sentado de ladinho, rabiscando num caderno. Preferi não tocar no assunto da noite anterior, mas ele começou.

- A cat? You call that a cat? So, what is a horse for you?

Fitava-me sem raiva, parecia ainda em dúvida sobre a experiência anterior. Envergonhado por não ter podido ajudá-lo melhor, decidi me retirar. Ao passar próximo ao caderno que ele rabiscava, vi que começava um novo texto. Não sabia na época se seria um romance ou um conto, mas o título estava lá: O velho e Omar.

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