.comment-link {margin-left:.6em;}

9 de dezembro de 2008

 

Pior para os fatos







Para ler ouvindo: The Dance (Garth Brooks)

Vendo as cenas do rebaixamento do Vasco, com crianças e atletas chorando e até uma pseudo-tentativa de suicídio por parte de um torcedor (apareceu até no noticiário daqui da Espanha), me fez lembrar o quanto uma partida de futebol pode transtornar a gente. Esse sujeito que queria se jogar da arquibancada logo estará revendo as imagens na TV e dando risada da sua própria tolice, mas ninguém pode negar que naquele momento ele experimentava uma tristeza verdadeira, que eu conheço bem.

Esse texto não é pra sacanear o Vasco, eu tenho todos os motivos, mas não vou sacanear o Vasco. Seus torcedores podem ficar tranquilos, vim falar do Flu, já que eu tinha preparado um texto na semana seguinte da perda da final da Libertadores contando como eu a havia vivido, mas acabei desistindo de publicá-lo, e hoje, revendo as imagens da queda do Vasco e de todo aquele sofrimento eu pensei em explicar melhor quais conclusões eu tirei da minha maior decepção futebolística.

Primeiro de tudo: não chorei! Não acreditam? Eu acho que o choro é contagioso, provavelmente se eu estivesse no Maracanã vendo toda aquela tristeza lá de dentro eu me uniria a eles, mas eu assisti à final num barzinho quase vazio, sem nenhum brasileiro por perto, acompanhado de um amigo totalmente indiferente ao resultado do jogo. Quando Washinton perdeu o último pênalty eu simplesmente calei a boca e só voltei a abrir no dia seguinte. Pedi a conta do bar e pedi que meu amigo me desse carona à casa tudo fazendo gestos. Mas isso é o final da história, vamos voltar pro começo:

Algumas horas antes da partida, eu estava no trabalho e meu chefe veio me visitar. Eu já tinha explicado pra ele o que era uma Copa Libertadores e ele já imaginava minha expectativa. Então, perguntou como eu me sentia:

- Tenho medo.

- Medo de perder?

- Não, medo de como me sentirei se perdermos.

Era isso, eu me conheço, sei como fico quando o Flu perde. Estava morrendo de medo só de imaginar que tipo de reação eu era capaz de ter no caso de uma derrota. Por um momento me arrependi de gostar tanto de futebol, mas já era tarde, eu não ia conseguir enxergar aquela final como um jogo. Aquele sentimento não era saudável, eu estava transtornado, não me concentrava em nada, e faltavam umas 10 dez horas pra partida. Depois conseguiu me recompor: Eu estava nervoso? Sim! Aquela seria uma grande conquista? Sim! Eu estava com medo das minhas próprias emoções? Sim! Acontece que uma grande conquista exige grandes emoções, não tinha saída. Aliás, tinha sim: voltar a formar times medíocres que terminam no meio da tabela. Prefiro o nervosismo.

Já de madrugada (aqui na Espanha era madrugada), minutos antes da bola rolar eu telefonei pra um amigo pra me acompanhar. Ele veio com a namorada e ficamos ali conversando um pouco, mas foi só o juiz apitar que eu adotei minha postura de torcedor. Já não escutava nada que me diziam, xingava, dava instruções, falava palavrão, ficava de pé, chutava as cadeiras...quando dei uma sossegada e vi a cara de pasmada que a namorada de meu amigo fazia ao me olhar, pedi desculpas por minha atitude pouco convencional por essas bandas de cá, mas ela me tranquilizou:

- Nada...eu to pasma é que nunca vi ninguém torcer assim. Lá na Colômbia (ela era colombiana) meus amigos só gritam quando é gol, mas você grita o jogo inteiro, assim que é bom! Dá pra ver a emoção da partida na tua cara.

Logo notei que ela não era a única impressionada. Cada vez que o Flu subia pro ataque eu escutava um grupo da mesa detrás de mim: "Vai! Agora vai!". Eu tinha contagiado as poucas pessoas do bar a torcerem pelo Flu, não que elas se importassem com o título, mas Fluminense no ataque era sinônimo de histeria por parte minha, e isso era divertido pra eles. Muitos escutavam falar do fanatismo brasileiro pelo futebol, mas poucos tinham a oportunidade de presenciá-lo ao vivo como aquelas pessoas naquela noite, e isso as deixava contente.

Lembro especialmente da celebração do terceiro gol. Thiago Neves ajeitava a bola pra bater a falta, o bar fazia uma corrente positiva e eu esmigalhava meus dedo e repetia baixinho sem parar: "vai Thiago Neves, mete esse gol Thiago Neves... vai Thiago Neves, mete esse gol Thiago Neves...". Logo gritei como um louco, pra alegria dos presentes.

Depois veio o intervalo para a prorrogação, eu fui ao banheiro eliminar a cerveja bebida. No caminho, cruzei com um cara do balcão e ele me disse:

- Cara, você não assiste futebol, você vive o futebol! A gente aqui tem a impressão que você pensa que tá lá dentro do campo junto com os jogadores.

Depois veio a cobrança dos pênaltys e todos sabem o fim da história: não chorei.

Chorar mesmo eu só chorei duas vezes. A primeira foi no dia seguinte quando entrei no orkut e fui lendo as histórias que contavam o pessoal que esteve no Maracanã, principalmente quando vi a foto que um deles tinha tirado do filho novinho todo vestidinho de tricolor abrindo o berreiro depois do jogo. A segunda vez que chorei foi semana passada quando, cinco meses depois, finalmente tive coragem de rever os gols da partida, daí não deu pra segurar porque lembrei de tudo que contei acima e revi com calma os detalhes que eu tinha deixado escapar no dia da euforia, como a comemoração do segundo gol com Thiago Neves correndo com a bola debaixo do braço e mordendo a camisa, que cena deliciosa!

E o tão lembrado terceiro gol, quando ele vai lá comemorar com a galera da geral!? Que alegria! Braços abertos, Luiz Alberto pulando na carcunda! Quanta gente feliz junta! fiquei imaginando onde estaria meu pai ali no meio, com quem estaria comemorando naquele momento. Não deu pra não chorar, mas foi mais emoção que tristeza, ainda que até hoje me pergunte como não levamos aquele título.

A vantagem de perder um título jogando uma partida maravilhosa como aquela é que não fica aquele sentimento de impotência, de inferioridade. Perdemos por um capricho, uma injustiça, e quando perdemos assim, passada a dor do momento, acaba virando uma virtude. É como sobreviver a uma tragédia, no momento você sofre, mas depois você se orgulha por ter sobrevivido. Eu sei que no futuro, quando eu estiver velhinho, algum tricolor jovem perguntará se eu estava vendo a final da Libertadores de 2008 e eu vou contar isso que eu estou contando pra vocês: que eu vi e sobrevivi, e ele me olhará admirado pela minha força de ter conseguido suportar esse fato por tantos anos.

Essa música que eu citei no começo do texto, fala de um homem que se apaixona pela mulher com a qual compartiu uma dança. Eles começam então um relacionamento e ela o faz muito feliz. Passado um tempo o relacionamento acaba, ele sofre muito com o fim e comenta:

E agora
Fico feliz por não ter sabido
Como tudo ia acabar
O rumo que as coisas tomariam

..Eu poderia ter evitado essa dor
Mas teria que evitar aquela dança



Era assim que eu me sentia. Só perdemos porque chegamos, porque dançamos muito. Até chegar o momento da dor eu dancei bastante. Contra o São Paulo, contra o Boca-Juniors, ótimas danças! Sem contar aquele verdadeiro baile de 6 x 0 contra o Arsenal. Ainda bem mesmo que eu não sabia a dor que viria depois, senão não teria conseguido desfrutar tanto essas danças que me fizeram muito feliz.

Ouvi gente dizer "A gente estava tão perto, agora temos que começar tudo de novo", e eu pensei:

- Opa! Tudo de Novo!? Do zero mesmo? Maravilha! Quero muito viver tudo aquilo de novo. Desde o título da Copa do Brasil, até o mata-mata da Libertadores com gol no último minuto. Quero sim! Pode escolher a música que dançarei sem pensar se vai doer depois, agora eu sou um sobrevivente de uma tragédia.

Marcadores:


Comments:
Bacana como uma sensação inerente ao ser humano se torna um ato de glória e coragem, já passei por isso também na final do mundial (PalmeirasxManchester United)quando, fatidicamente, nosso glorioso goleiro tomou um frango... :-(

Compartilho da sua dor... rsrs

Abs,
Daniel
 
Oi!
Eu sou a Mayra, trabalho na área de marketing da boo-box.

Estava visitando alguns blogs da comunidade Escritores Anônimos, e encontrei o seu...ele me chamou muito a atenção.
Tenho uma proposta a te fazer. Você pode me enviar seu e-mail? Meu e-mail é mayra@boo-box.com
Aguardo contato :)
 
uooopa..vai sair dos "escritores anônimos"...rs

taí uma coisa q sei fazer na vida, é dançar essa dança da derrota...rs

meu coração é curinthiano...ó sina! rs
 
Daniel:

Nem me fala em Mundial que eu lembro de eu juntando dinheiro na época pra ir pro Japão agora no fim do ano.

Mayra:

Não estou interessado, seja lá que proposta você tem a fazer.


Ju:

Ai, sua corinthiana, maloquera e sofredora, tá preparada pra torcer pro Gornaldo? E olha só, essa Mayra é uma cilada, Bino.
 
Ronalducho no timão...
o mundo tá perdido!!!
rs

claaaaro q eu tô preparada.
tô até acreditando na volta por cima! rs

falando de posts antigos: dia desses eu tava ouvindo rádio, e bicho, cê num acredita no q tocou...rs...a famigerada vanessa rangel...isso sim é q é cilada...rs
 
Ai, ainda existem pessoas que escutam rádio ...
 
Postar um comentário



<< Página inicial

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

eXTReMe Tracker