.comment-link {margin-left:.6em;}

29 de outubro de 2009

 

Diálogos




Se São Tomé tivesse um pintinho



- Então você não acredita em Deus?

- Não.

- E se ele aparecesse pra você?

- Buscaria um psiquiatra.

- E se o psiquiatra dissesse que você não estava louco.

- Então o louco era eu e o psiquiatra.

- Mas e se ele realmente provasse que era Deus. Tipo dizendo coisas sobre você que só você pode saber.

- Ah, então seria uma prova cabal que era um produto da minha cabeça. Por outro lado, se ele dissesse coisas que eu nunca soube seria impossível ser gerado pela minha mente, logo eu poderia, por exemplo, pedir que ele cante Meu pintinho amarelinho em sueco, euskera, hebraico, mandarim e javanês. Como eu não conheço nenhuma palavra nesses idiomas seria impossível eu projetar uma ilusão que falasse tais línguas. Depois iria buscar pessoas que falassem esses idiomas e repetisse o que o suposto Deus teria cantado, caso a tradução fosse realmente "Meu pintinho amarelinho cabe aqui na minha mão...", ficaria provado pelo menos momentaneamente que aquele Deus não era fruto de minha imaginação, mas ainda assim eu ia considerar outras possibilidades.

- Ou seja, que o criador do universo tá na tua frente e não te ocorre nada melhor que pedir que ele cante Meu pintinho amarelinho em cinco idiomas?

- Ao princípio, sim.

- Ai, quanta blasfêmia!

Marcadores:


21 de outubro de 2009

 

Para ler e cantar



To sabendo aí que o tal de Rafael Polegar voltou a aprontar. Dessa vez foi visto tentando se suicidar com uma faca no pescoço dentro de um elevador, mas foi contido pela PM. Fontes minhas me disponibilizaram o áudio da negociação e eu transcrevo pra vocês:



Rafael, recapacita, cara! Olha o que você tá fazendo! O que sua mãe vai pensar?


- Ela não liga, ela não liga
Ela não liga, Ela não liga pra mim.

Eu sou um carro, ela não guia
Sou um cigarro, ela não fuma
Eu tô na dela, ela tá numa
Eu tô de noite, ela de dia
Eu viro rádio, ela não liga
Eu peço um gesto, ela faz figa
Toco guitarra e bateria, ela só ouve sinfonia.


- Puta merda? Esse verso é seu? (E eu pedindo que ele não se mate, vai entender!)... mas então, Rafael, muito bonita sua letra, dá pra ver que você é um cara talentoso. Dê valor à sua vida! Como você mesmo dizia: Não se deprima! Não se deprima!

- Essa é dos Menudos, e é Reprima.

- Certo, certo! Mas fala, por que você quer fazer isso?

-É que Dizem que estou desmiolado
que perdi minha razão
que eu to batendo pino,nada vê
Dizem que estou alucinado


- Não liga não e vem
Dá pra mim essa faca! Dá pra mim!
Não se preocupe que eu serei um bom rapaz


- Não...

- Dá pra mim, porra!

- Tá nervoso é?

- Não é por nada não, mas é que são duas da manhã eu queria estar com minha família e tenho que estar aqui te convencendo a não se matar.
É por você que eu perco o sono
É por você que eu ando doido
Dá essa faca pra mim ohohoohoyeah!

- ohohyeah?

- Me empolguei.

(soa o rádio do policial)

- A situação tá sob controle?

- Sim, tem horas que ele tropeça nas palavras e começa a gaguejar e fica afo-baba-do se me vê , mas no geral tá tudo ok.

- Tá, se precisar de reforços me avisa.

(rádio desligado)

- Então Rafael, pela última vez:
Dá pra mim essa faca! Dá pra mim
Prometo que vou ser um bom rapaz


- Tá bom, toma.

- ah, ótimo. Desistiu, né? Queria só chamar atenção.

- Não é isso, é que descobri que
sou um lunático apaixonado ou qualquer coisa assim
Sou como sou
Aonde vou eu acho a minha saída
Sou como sou e seguirei a vida é pra ser vivida
Sou como sou e viver é melhor medida
Sou como sou

6 de outubro de 2009

 

Ensaio sobre a falta que um guarda chuva não faz.







Eu nunca contei aqui, mas tenho uma certa aversão aos guarda chuvas. Sempre que comento isso com alguém, me pedem uma explicação lógica, e eu sempre desconverso, digo que simplesmente consigo viver sem eles, mas a verdade é que eu tenho tantos motivos que não saberia escolher o primeiro a comentar, por isso dou essa abreviada no assunto. Só hoje resolvi sentar e enumerar detalhadamente minhas mágoas contra esse ser inanimado.


1 - Não é uma invenção, é uma improvisação.

Pouca gente sabe, mas o guarda chuva nunca foi inventado por ninguém, ele é uma improvisação da sombrinha. Geralmente achamos o contrário, já que hoje em dia quase não vemos ninguém usando sombrinha, mas ela veio primero. As pessoas tomaram chuva sem nenhum problema até dois séculos atrás quando começaram a aparecer os tecidos impermeáveis e alguém teve a idéia de cobrir uma sobrinha com esse tecido. Só o fato de que a chuva existe desde que o mundo é mundo, e que a humanidade até o século XIX cagou e andou para bolar um meio de se defender dela já mostra o quanto esse objeto é inútil.

2 - Falsa sensação de proteção.

O guarda chuva parte da premissa que chove em linha reta, as ruas são planas e o solo absorve a água um milésimo de segundo após entrar em contato com ela. Quando você sai na chuva você pode escorregar no chão molhado, pode pisar em poças d'agua imundas cheias de xixi de rato que te vão trazer leptospirose, escarlatina, ebola e câncer de intestino. Suas calças vão molhar também, e se forem Jeans elas não vão secar e você vai ficar com aquilo molhado no corpo o dia inteiro. Grande parte da sua camisa também molha. O único que fica protegido é a sua cabeça, que é o menos importante, basta secar com uma toalha quando chegar em casa. A pessoa quando usa um guarda chuva está mais propensa a pegar uma gripe porque ao chegar em casa com a cabeça seca transmite a sensação de que o corpo também está, e fica ali com a roupa úmeda no corpo. Já o cara que sai sem guarda chuva e chega em casa encharcado, ele simplesmente bota toda a roupa pra lavar e se seca.


3 - Você realmente não precisa dele

Moro em uma cidade com um dos maiores índices pluviométricos da Europa e vivo feliz sem guarda chuva. Quando a chuva me surpreende no caminho eu simplesmente me meto dentro de algum bar. Se tenho algum compromisso vou me esgueirando pelas marquises. Aliás, uma grande prova da inutilidade dos guarda chuvas é que eu sempre tenho que compartir essas marquises com pessoas equipadas desse objeto horrendo.

nota: Antes de passar pro próximo ponto deixa só eu botar um adendo, já que eu falei de marquises. Pra mim essa é uma das palavras mais bonitas da nossa língua (tá, é um estrangeirismo, mas já está aportuguesada). Além de outro detalhe importante, que provavelmente nunca uma palavra tão bonita foi usada pra algo tão vulgar. Quando eu era pequeno e ouvia essa palavra eu imaginava várias coisas, menos que estivesse relacionado com a construção civil. Destoa tanto como se ao invés de dizer carburador disséssemos champignon.

4 -Você não gosta dele

Não há objeto mais esquecido no mundo do que um guarda chuva. Em todas as cafeterias que trabalhei aqui em La Coruña podíamos fazer uma coleção com os guarda chuvas esquecidos pelos clientes. Dava até pra abrir uma lojinha no E-Bay. Acho impossível que as pessoas façam tão pouco caso a esse objeto se ele tivesse alguma importância.


5 - Vida útil mais curta que a de um hamster.

Faça um teste: compre um guarda chuva, um hamster, um peixinho desses que venda na feira dentro de uma bolsinha plástica e um mini game de 990 jogos de uma lojinha de 1,99. Eu aposto que o guarda chuva bate as botas primeiro. Você obviamente está pensando que eu me refiro àqueles comprados no camelô, mas eu afirmo que todo guarda chuva termina assim:



Nem mesmo se você tiver dinheiro pra cacete e puder pagar mais do que 10 reais num guarda chuvas que vai durar três chuvas você está livre disso. Ou você acha que George Bush compra guarda chuva em camelô? Olha o que aconteceu com o dele:



Detalhe para a cara do Putin. Vladmir Putin te despreza.


6 - Trauma de infância.

Quado eu era criança e tinha que ir pra aula num dia chuvoso, meus pais me faziam levar um guarda chuva. Até aí, nada de muito traumático, o problema era a peça que eles me disponibilizavam. Era um treco colorido, com cabo de madeira, com a tela soltando em vários pontos e que nem sequer tinha aquele botãozinho para abrir automaticamente. Era no braço mesmo, e a maioria das vezes eu prendia o dedo. Eu chegava na escola com aquilo, enquanto meus amigos reluziam seus guarda chuvas negros padronizados e as meninas gabavam-se com seus horrendos, mas pelo menos modernos na época, guarda chuvas brancos com foto da Madonna que estavam totalmente in nos anos 90. Sente a deprê:



Alguns ainda tinham o cabo com desenho de cabeça de ganso. Eu odeio minha geração, sinto muito.
Daí então na escola eu era vítima de bulling por causa desse puto instrumento. Diziam que eu levava o guarda chuva da vovó. Ainda lembro o dia que passei no fliperama depois da aula carregando esse troço e quase fui linchado. Por muito tempo não culpei meus pais por isso porque achei que era por falta de grana, mas quando cresci pro mundo e descobri que um guarda chuva não é muito mais caro que uma caneta bic (e eu já tive várias canetas bic), acho que eles foram desleixados nesse ponto.


Enfim, de todos os motivos supracitados acho que esse último foi o que mais contribuiu para moldear minha personalidade hoje. Prometi a mim mesmo que quando crescesse nunca andaria com guarda chuva e aqui estou feliz e levemente molhado.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

eXTReMe Tracker