.comment-link {margin-left:.6em;}

28 de novembro de 2008

 

"...To com saudade de você debaixo do meu cobertooo uô ..."







Essas coisas são engraçadas, estava eu aqui respondendo os comentários quando surgiu uma brecha para uma piadinha sobre as mulheres. Eu dizia que era difícil dedicar trilhas sonoras às garotas, quando a maioria delas não valia um single da Vanessa Rangel.

Mas, caramba, de onde eu ressuscitei a Vanessa Rangel, cantora desaparecida (graças a Deus, que é pai, não é padrasto) desde o ano 2000? Juro que na hora que eu escrevi o comentário eu ia colocar "não valem um single do Tiririca", mas achei meio óbvio. Pensei depois na Patricia Marx (comunista?), Sampa Crew, Miami Beach, pensei em alguns trashs dos anos 80 também, mas quando lembrei da Vanessa Rangel não tive mais dúvidas: Ela é o exemplo perfeito!

Aliás, depois me coloquei a pensar por que eu nunca tinha escrito um texto sobre ela. A moça é a cara desse blog: insignificância em estado pleno. De fato até pensei em adotá-la como mascote do blog (quando eu implico com alguém é foda), mas esse papel já é muito bem representado pelo mítico Carlinhos Itaberá.

Quem lê o Cara de Milho há bastante tempo sabe que se tem uma constante nessa bagaça é que eu evito falar de temas atuais, gosto de rebuscar no passado, aliás, eu não vejo a hora da briga do João Gordo com o Dado Dolabella completar dez anos de existência pra eu finalmente dar meu parecer. O mesmo pro vídeo da Cicarelli na praia.

Por isso achei que cabia perfeitamente uma dedicatória à insuportável da Vanessa Rangel na seção das Biografias pouco interessantes, que está parada faz tempo. O problema foi descobrir informações sobre a moça pra elaborar uma biografia, já que a rapariga é tão trash que nem no Google encontrei notícias dela.

Tentei então através do orkut e senti escalafrios. Descobri algo importantíssimo que tenho que compartilhar com vocês. É questão de segurança pública: Ela tem uma comunidade com mais de 400 membros! Talvez vocês não tenham notado a gravidade da situação, então vamos colocar assim: Aí fora, andando pela mesma rua que vocês, há pelo menos 400 pessoas que escutam Vanessa Rangel! Veja bem: Pelo menos 400! O número pode ser infinitamente maior! O que isso quer dizer? Por que vocês devem temer esse dado? Explico:

Uma pessoa que escuta Vanessa Rangel já abdicou de tudo que a mantém participativa no pacto social. Já mandou pelo ralo a auto-crítica, o sentido do ridículo, o bom-senso e tudo mais que poderia fazer dela alguém não nocivo. Essas pessoas já não têm mais nada a perder, logo são perigosas, perigosíssimas. Há pelo menos 400 pessoas perigosíssimas caminhando livremente no mesmo país que vocês. Uma pessoa que escuta Vanessa Rangel pode muito bem, por exemplo assar um bebê num microondas. Isso pra ela não é nada, ela escuta Vanessa Rangel. Pode arrancar o fígado de uma velha com um canivete suíço? Claro que pode! É Vanessa Rangel, amigo! Se liga! Pode soltar um tigre esfomeado dentro de uma escola primária e trancar os portões? Amigo, se ela pode até escutar Vanessa Rangel, porque não poderia fazer isso!?

Então fica o aviso dado. Entrem em contato com as autoridades competentes pra evitar uma tragédia. É por essas e outras que a seção das biografias pouco interessantes nunca foi pra frente, mexer no passado pode ser inquietante. Eu, por morar fora estou a salvo, mas como dormir tranquilo sabendo que meus familiares no Brasil podem topar a qualquer momento com um fã da Vanessa Rangel?

Marcadores:


27 de novembro de 2008

 

Poemas imundos do Hombre Maíz





Sobre Tim Maia e uma tarde


Entramos no apartamento
Que era dela e o marinheiro
- Ele agora está embarcado
Fica fora o mês inteiro
Quando vem, fica dois dias
Logo volta pro pesqueiro
E me deixa aqui aflita
Feito padre num puteiro

Deixamos a Tv sem som
Mostrando o noticiário
E as imagens de uma tragédia
Pra fazermos comentários
Bendizendo nossa sorte
De não estarmos no cenário
E sim, deitados no sofá
entre carinhos ordinários

Ligamos depois o rádio
Pra entrar melhor no clima
Eu queria ouvir Tim Maia
Ela, Ana Carolina
- Nem pensar, já tem dona
Faz lembrar outra menina
Lá de Feira de Santana
Uma paquera nordestina

Pra sair já dessa esquina
Escutamos Joaquim Sabina
Que não é nenhum Tom Waits
Mas, também não desafina

E foi caindo a tarde
Entre orgasmos e gemidos
Um sofá ficou manchado
O lençol meio encardido
E Sabina ainda cantava
Sujos versos no meu ouvido
Enquanto ela comparava
O meu pau com o do marido

À noite, pizza e coca-cola
e um som chill out meio paia
E eu refletindo um tabu
Que eu espero que ainda caia:
Não tenho a quem dedicar
As canções do Tim Maia.

Marcadores:


26 de novembro de 2008

 

Notificação da diretoria




O Roberto deixou uma opinião sugerindo que eu voltasse a responder os comentários. Aceito, mas antes quero explicar umas coisas:

- Tá foda achar tempo pra escrever, quem dirá pra comentar comentários. Invejo blogueiros que não passam mais de uma semana sem postar, mas comigo não dá. Trabalho, estudo, comprei um Nintendo Wii, e como se isso não bastasse, moro sozinho. Ou seja, chego em casa e não tem comidinha pronta nem roupa lavada, nem papel higiênico aparece ali no banheiro como um fenômeno natural. Fora outros projetos paralelos que tenho além desse blog, que não comento porque ainda são projetos.

- Eu tinha pensado até em acabar com a caixa de comentarios em função de umas mal comidas que a estavam usando pra me cobrar sexo, como elas desapareceram, resolvi permitir outra vez que vocês se expressassem.

- Vocês já leram a seção de cartas da revista Mad? Eu queria comentários assim, sem bajulações, coisa de veado.

Enfim, é isso, a partir de agora quem comentar terá sua réplica.

 

Mais uma de sábios.





Já estava o velho monge nos seus últimos dias de vida, cheio de reumatismo, artrite, arterioesclerose, cagando mole pra caramba quando decidiu chamar um de seus discípulos para que reunisse todos seus pupilos naquela noite que ele queria revelar a lição absoluta sobre a vida antes que batesse as botas e virasse uma caveirona inutil.

- Agora? -perguntou o discípulo - Só agora você vai revelar a porra da lição absoluta que você ficou miguelando a vida inteira? A gente aqui tudo aflito te sustentando, pagando maior mico pela rua vestindo essas túnicas e pedindo esmola, enfiando o orgulho no rabo pra você poder ficar aí em posição de Lotus o dia inteiro, comendo de graça enquanto a peãozada tá lá debaixo do sol quente carregando saco de cimento pra lá e pra cá em troca de um salário mínimo? Ah, vai tomar no cu, vou reunir pupilo porra nenhuma, pega essa lição absoluta e dá pra tua mãe.

Então, o velho monge chamou outro discípulo, e esse sim aceitou a missão de reunir os pupilos pra ouvir a verdade absoluta que seria revelada naquela noite.

Chegado o momento, estavam todos ansiosos no salão principal do templo à espera do mestre fazendo orações, meditando, entoando mantras e fazendo a ola. Nada mais chegar, o velho começou seu discurso:

- Em verdade vos digo, que entre a superficialidade das circunstâncias, algumas óbvias, outras obsoletas percatadas no chakra de uma cosmocidade atenuante que aflige as raízes de um universo tântrico onde o carma adormece baixo os ensinamentos de Huiracocha e a magia elemental dispõe de elementos nauseabundos desde a antiga Bailônia até os dias atuais no programa da Sônia Abraão...em verdade vos digo que só existem três tipos de mulheres: a pata, a puta e a filha de uma puta.

A pata dá apenas pra você e ninguém mais porque ela acha que vocês estão namorando. A puta dá pra todo mundo, sem distinções, libera geral. Enquanto que a filha de uma puta é aquela que dá pra todo mundo, mas não dá pra você. Entenderam? Ela dá pra todo mundo: pro açougueiro, pro leiteiro, pro carteiro, pro instalador de Tv a cabo, pro zagueiro da Ponte Preta, mas não dá pra você. Todo mundo come, menos tu! E ela faz isso porque ela é filha de uma puta, é a natureza dela! - Logo, o mestre foi interrompido por um discípulo:

- Mestre, poderia repetir a parte dos ensinamentos de Huiracocha, é que eu estava anotando e me perdi, então ...

- Ah, aquilo saiu de improviso, não dá pra lembrar agora ...

- Mestre! - Solicitou outro discípulo - Considerando que nós vivemos confinados nesse templo há mais de vinte anos, onde nunca entrou uma mulher, e ainda que entrasse, nós fizemos voto de castidade, e ainda que não fizéssemos, não comeríamos ninguém porque não somos o tipo de homem pra quem uma mulher daria, e ainda que fôssemos, nenhum de nós faz idéia de como pegar uma mulher, que tipo de proveito podemos tirar de suas últimas palavras?

- Quê? Vocês são tudo cabaço? - Perguntou o mestre - Quer dizer que levaram a sério mesmo aquele papo do voto de castidade? Pelamordedeus! Aquilo faz já uns vinte anos que eu falei, tava de sacanagem, tinha bebido um pouco, tava meio alegre, não sabia que vocês iam botar fé. Se quiserem comer alguém, pode comer, ligo não.

E retirou-se ao seu aposento para aguardar o fim de sua agonizante senilidade.



photo credit

Marcadores:


11 de novembro de 2008

 

Mas, afinal o que tem de mais nessa porra de elefante?




Eu tinha uma namoradinha que era muito boa menina, boa de verdade, não boazuda. E todo mundo quando a conhecia vinha comentar que eu tinha uma namorada encantadora, uma menina de coração puro, dessas que não se encontram mais.

Logo nas primerias semanas em que a conheci, lembro de uma conversa que a gente teve que reforçou muito a idéia de que eu tinha um anjinho dormindo na minha cama. Ela contou, com lágrimas nos olhos, sobre o dia em que seu pai a levou ao circo, e lá tinha um número em que o domador fazia o elefante caminhar sobre duas patas. Acontece que o elefante, provavelmente movido pelo esforço descomunal de caminhar de uma forma na qual não estava acostumado, teve uma crise de bexiga frouxa durante o espetáculo e ao mesmo tempo em que caminhava deixou um enorme rastro de urina pelo picadeiro, o que resultou em gargalhadas gerais na platéia. Essas gargalhadas a traumatizaram por toda a vida. - Pobre elefante - dizia ela - Passar por um vexame desses por culpa do domador.

Sim, assim era minha menina, tomava as ofensas até de um elefante. Mas, sabe come é, as coisas não duram para sempre, e um dia ela resolveu me dar um enorme pé na bunda, um pé de elefante, e justo num momento bem inoportuno, quando eu estava cheio de dívidas, morando numa casa de merda, com gente de merda, trabalhando num trabalho de merda e pra completar, tinha acabado de machucar a perna naquele dia e tive que ficar uma semana de cama, uma semana inteira deitadão com tempo suficiente pra ficar me remoendo no quanto eu era infeliz e me perguntando como era possível ela me deixar ali naquela situação. Num dos raros momentos de genialidade durante aqueles dias me perguntei: - O quê que aquela porra de elefante tem que eu não tenho?

Assim, ela se corroe toda por ver um elefante sendo alvo de chacota, um bicho que com toda certeza nem sabia que estavam rindo dele e que com mais certeza ainda não tem a menor noção de se fazer xixi num picadeiro é reprovável ou não. Provavelmente, na cabeça dela, o puto do elefante nem conseguiu dormir naquela noite tamanha a humilhação que havia passado, talvez até precise de psicólogo. Por outro lado, pode dar a um ser humano os piores dias de sua vida sem nenhum remorso.

Esse episódio serviu de base pra um pensamento que desde então eu sempre carreguei comigo: Cuidado com os defensores de animais, muito cuidado! Muita atenção com meninas que levam cachorrinhos de rua pra casa, que choram vendo Free Willy e que te passam links de vídeos de animais sendo mortos pra fazer casaco de pele, essa gente é perigosíssima. Na minha concepção, são pessoas incapazes de sentir afeto por qualquer ser humano e que por isso usam os animais como válvula de escape pro amor que têm guardado e não têm a quem endereçar. Você provavelmente conhece alguém que delira assistindo vídeos de execuções e acidentes fatais, mas que chora vendo foquinhas sendo caçadas. Evite essas pessoas, é pro seu bem.

Mas, vamos voltar a falar daquela vadia da minha ex-namorada. Muitos anos depois voltamos a nos encontrar pra fazer aquele tal do flashback, e também para comparar quem havia sido mais maltratado pelo passar do tempo. E eis que numa conversa rotineira ela expõe sua aversão sobre as touradas espanholas. Putz, se eu conto a raiva que me subiu nesse momento, a vontade de cortá-la em pedacinhos, de esbofeteá-la no meio da rua, de tacar fogo na cara dela, de dar uma rasteira, ipon, bica na costela, mata-leão ...enfim, respirei fundo antes de falar qualquer besteira, pensei até em expor minha teoria do elefante já que ela me ajudou a elaborá-la, mas a gente estava falando de touros, então achei melhor deixar o infeliz do elefante mijão quieto e apenas a recordei que ela deveria então ser vegetariana, já que uma vaca sofre mais num matadouro que um touro em uma tourada. Ela me disse que estava analisando a possibilidade de dentro de uns meses se tornar vegetariana.

Eu fiquei pensando: Porra, ou você é vegetariano ou não é! Que papo é esse de "vou virar vegetariano"? Se acha errado comer carne, então você não come carne. Seria o mesmo que um agricultor do século XIX falasse "Eu estou aqui espancando esse escravo (splat !splat!), mas quero parar (splat! plat!). Acho que daqui a uns dois meses vou ser abolicionista,(splat !splat !) mas enquanto isso ... porrada no timbuço! (splat!splat!)"

Durante esses dias que passei com ela, a moça ainda argumentou em defesa do mico-leão, das orcas, do macaco-prego, do gafanhoto rosa da Ilhas fiji e do Papacu rasteiro que habita os rios do Zimbabue. Mas, sua militância ia além dos animais, argüiu também em prol dos cubanos, palestinos, zulus, curdos, botafoguenses, hippies, emos... enfim, a única espécie que ela nunca se manifestou a favor foi uma que está quase extinta: a do namorado que que sempre me tratou com carinho e agora está na merda, com a perna machucada e precisando de mim. Fora isso, a menina era uma causa ambulante.

Foi aí que vi que a teoria do elefante estava incompleta, não é só de defensores de animais que devemos nos precaver, e sim de defensores em geral. Duvide de qualquer pessoa que apóia povos os quais ela nunca teve contato. Pergunte a todos defensores dos tibetanos, quantos tibetanos eles conhecem. O mesmo para defensores de palestinos ou qualquer outro povo oprimido. Depois perguntem qual a diferença entre a opressão desses povos e a opressão dos meninos que vêm vender bala no sinal e eles fecham o vidro com medo. Quando encontrar alguém com uma camisa ou adesivo "Free Tibet" pergunte com quantas pessoas necessitadas que moram bem mais perto que os tibetanos ele cruzou ontem, e o que fez por eles.

Isso completa meu raciocínio:

- Pessoas ruins são incapazes de amar quem está a seu redor e se sentem incômodas por isso. Precisam se sentir boas de alguma maneira, e a estratégia encontrada é adotar ideologias completamente alheias a sua vida, defendendo grupos, raças ou espécies as quais nunca terá contato e se um dia tiver a oportunidade, evitará a todo custo. O carinha que sai com a bandeira da Palestina na camisa quer apenas ser visto como um defensor de uma causa, ele não vai pra cama preocupado com os palestinos, aliás, ele nem sabe encontrar a Palestina num mapa.

- Pessoas boas podem até se familiarizar com causas distantes. Ninguém deixa de se sensibilizar vendo um bichinho fofo, peludinho e indefeso tendo sua pele arrancada ainda vivo. Mas sentir-se indignado com uma injustiça não faz de você uma boa pessoa. Pessoas boas não tentam mudar o mundo, tentam mudar seu mundo, que é composto por sua família, seu círculo social, seus companheiros de trabalho, seus subordinados, seus chefes e quem mais você encontrar pela rua. Uma das melhores pessoas que eu conheço é o dono da cafeteria onde eu trabalho, se vocês vissem como o cara sai de um baita carrão, com um terno de mais de mil euros pra logo entrar na cafeteria e conversar de igual pra igual com um mendigo que está ali tomando café, sem se sentir superior e sem falsa modéstia, saberiam do que estou falando. Simplesmente todas as pessoas ao seu redor estão felizes com ele, desde sua esposa aos seus empregados.

Pra terminar, vou contar duas experiências minhas e vocês pensem sobre qual foi a mais gratificante.

1 -Quando houve o tsunami na Ásia eu dei um euro pra cruz vermelha como uma pequena contribuição para as vitimas do desastre. Me senti bem por dez segundos e nunca mais voltei a pensar nem no tsunami e nem em suas vítimas.

2- Quando eu era camelô em Madrid, tinha que chegar no local bem antes de escurecer porque senão as calçadas já estavam todas ocupadas por outros ambulantes. Uma vez vi que dois imigrantes africanos discutiam porque um deles chegou tarde e não tinha onde colocar a mercadoria, o outro estava obstinado a não ceder nem meio palmo de calçada a seu compatriota. Fui até eles, perguntei o que tinha acontecido, e um deles me explicou que seu amigo havia dormido demais e que ele não ia dar espaço pra dorminhoco. Então eu fui até o primeiro camelô lá na ponta da calçada e pedi que ele chegasse "um tiquinho" pro lado, coisa pouca, cinco centímetros bastava. Logo pedi o mesmo pro camelô ao lado, e assim sucessivamente. No final, havia se formado espaço suficiente pro dorminhoco colocar suas bugigangas: - Tá aqui! Problema resolvido! - Disse pro rapaz. Ele me olhou com aquela cara de "Por que você ta fazendo isso por mim?", agradeceu e logo foi montar sua barraquinha. A cara que ele me olhou quando viu que eu, que nem o conhecia, o estava ajudando eu nunca esqueci.



photo credits

Marcadores:


6 de novembro de 2008

 

Enfia o celular no rabo e bota pra vibrar.






Imaginem a cena:

Você está sentado numa lanchonete conversando com um amigo. A conversa está agradável, vocês estão chegando a pontos interessantes, daí você está ali empolgado dando sua opinião quando de repente escuta alguém na mesa ao lado dirigindo-se ao seu amigo:

- Ei! Psiu! Ei, você! Que tal sentar aqui comigo pra gente conversar?

Então seu amigo, sem a menor cerimônia se levanta, se senta na mesa ao lado e começa a conversar com o intruso e te deixa plantado.

Absurdo, né? Você provavelmente não faria isso nem com o maior chato que você já conheceu, muito menos com seu amigo. A pergunta é: Qual a diferença entre fazer isso e interromper uma conversa pra atender o celular?

Hoje mesmo eu marquei de encontrar uma amiga no shopping pra ir ao cinema com ela e seus dois filhos. Cheguei cedo e fiquei esperando ela na praça de alimentação. Cinco minutos depois a vi chegar pela escada rolante com os dois meninos, ela estava falando no celular.

Os meninos chegaram, me cumprimentaram e se sentaram enquanto ela continuou a conversa, tomou assento e ainda nem parecia ter notado minha presença. Fiquei ali batendo papo com os moleques, ela continuava no celular. Pediram dinheiro pra comprar doces numa máquina, ela buscou dinheiro na carteira com a mão disponível enquanto a outra segurava o celular, até aí eu já sabia que ela falava com o cozinheiro do restaurante onde ela trabalha e que ele comentava algo sobre umas críticas que ele escutou o chefe fazer sobre ela.

Enquanto o cozinheiro falava algo ela me olhou e fez um gesto como perguntado se eu já sabia que filme iríamos ver. Eu não entendi o gesto, então ela pediu pro cozinheiro esperar um momento e dirigiu a palavra a mim pela primeira vez, pra explicar que o gesto que el tinha feita era pra saber se eu já tinha escolhido o filme. Eu disse que sim, então ela voltou à conversa no celular.

Quinze minutos depois, a ligação terminou. Comentei que os meninos podiam ver o filme das 20:15 e que nós poderíamos ver o das 20:30 e nos encontrarmos na saída. Cinco minutos depois o cozinheiro voltou a ligar, dessa vez pra deixar claro que não queria abalá-la com as notícias que ele tinha dado. Essa conversa foi mais curta, logo fomos pro cinema.

Chegando lá ela apagou o celular, mas quando sentiu que o o filme de seus filhos já teria acabado, resolveu voltar a ligar o aparelho, caso os meninos quisessem informar algo. Cinco minutos depois um dos seus filhos mandou um SMS dizendo que já tinha acabado seu filme, ela respondeu que esperassem na praça de alimentação. Dois minutos depois, outro SMS dizendo que o filme que eles viram era muito bom, ela respondeu que estava contente por isso.

Acabado nosso filme fomos comer algo e ali conseguimos conversar sem interrupções. Acabada a janta ela me ofereceu carona pra casa, e ali no carro o celular voltou a soar no meio de uma conversa animada, era o cozinheiro outra vez, o cara está apaixonado por ela e não para de inventar motivos pra ligar. Dessa vez era pra ter mais certeza ainda que ela não estava abalada com as críticas do chefe. Essa ligação durou todo o percurso até minha casa, ainda que durante o trajeto eu cheguei a alertá-la dizendo coisas como:

- Oie, não te parece falta de educação interromper uma conversa pra falar com uma pessoa no celular?

Mas ela apenas levantou a palma da mão, fazendo gesto de que eu me calara pra que ela pudesse ouvir o que o cozinheiro estava falando. Quando finalmente estacionou, queixou-se do fato de ter "dois falando comigo ao mesmo tempo", eu por um lado e o cozinheiro apaixonado pelo outro. Por respeito aos seus filhos, não a mandei tomar no cu, nem levantei a voz. Apenas voltei a advertir sobre fato de que parecia muita falta de educação que você saisse com uma pessoa mas passasse a noite conversando com outra, e ela respondeu que não podia fazer nada se o telefone não parava de tocar, eu respondi que ela tinha a opção de apagá-lo, ou não responder a chamada, ou responder pedindo pra ligar uma outra hora. Ela disse que isso seria falta de educação.

Tá, então eu já imagino o que vocês estão pensando: Ela está afim do cozinheiro e tá te fazendo de bobo. Errado! Ela morre de nojo desse cara, e nunca me fez de bobo, é uma amigona, uma pessoa que eu gosto muito, e ainda é a pessoa que mais me ajuda aqui na Espanha, não sabe dizer um "não" pra mim e eu devo muito a ela. O problema é um só: ela não sabe usar um celular, é só ali que ela peca. Assim como ela, existem vários, já vi de tudo, já vi amigo meu que estava jantando comigo se levantar da mesa e sair do restaurante pra atender o telefone e me deixar ali meia hora comendo sozinho.

As pessoa se incomodam muito com as regras de etiqueta, estão muito preocupadas em aprender a usar o garfo com a mão esquerda e saber distinguir um garfo de salada pra um garfo de peixe, mas as maiores faltas de educação são cometidas sem nenhum remorso. Deveria haver uma campanha na TV alertando sobre isso. Tipo uma personagem da novela que passa o tempo inteiro no celular poderia morrer assassinada a golpes de machado pelo carinha que estava jantando com ela. Talvez isso conscientizasse a população.

O que mais me dá raiva é que na semana passada eu estava no carro com essa mesma amiga, quando de repente meu celular tocou. Era a mina que eu tinha acabado de comer na noite anterior, dando aquele típico telefonema de "chegou bem em casa? Tá cansado? Foi bom pra você?" e outras coisas que a gente pergunta no dia seguinte de uma transa. Eu fui curto, sem ser grosso:

- Oi Fátima, tudo bom? Então cheguei bem em casa sim. Olha só, eu to no carro de uma amiga, posso te ligar quando eu chegar em casa? Daqui a uns dez minutos, tá bom?

- Tá, to esperando. Tchau.

Viram só? Não dói nada. Agora só penso em buscar uma maneira de passar esses modos pra minha amiga pra não termos mais esse tipo de problema. Quando cheguei em casa pensei numas estratégias:

1 - Tomar o telefone da mão dela, jogar no chão e pisar em cima. (muito heavy)

2 - Assim que a encontrar, pedir que dê o celular na minha mão, apagá-lo e colocá-lo no meu bolso. Caso ela se recuse, simplesmente ir embora.

3 - Quando o cozinheiro ligar, tomar o telefone da mão dela e falar com ele coisas como: "Não tá vendo que ela não vai dar pra você, seu merda?"

4 - Levar meu Ipod e ligá-lo cada vez que ela atender o telefone. Daí quando acabasse a ligação e ela me pedisse atenção eu pediria que ela esperasse uns minutinhos, só até acabar essa música.

5 - Levar um aparelho desses antigos de telefone, daqueles que tem que girar a roletinha pra discar os números, daí quando ela atender o celular, eu tiraria meu telefone da mochila, colocaria em cima da mesa e simularia uma conversa tipo: "Oi, Renata! Tudo bom? Então, eu to aqui com uma amiga, mas ela ta falando no telefone e eu resolvi ligar pra você pra não ficar entediado. Legal que duas pessoas se encontrem pra conversar por telefone com outros, não é?

Resumindo: Leio muita gente criticar o celular, mas não é minha intenção. A verdade é que os considero uma tecnologia muito útil e pode te livrar de muitas roubadas, o problema é o uso que você faz dele, tem que ter etiqueta, mas o problema é que a maioria das regras de etiqueta foram criadas antes de sua invenção, e esqueceram de atualizá-las. Hoje em dia, conversar no telefone estando acompanhado é mais feio que comer meleca ou arrotar à mesa.

Marcadores:


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

eXTReMe Tracker