.comment-link {margin-left:.6em;}

23 de outubro de 2008

 

Memórias que me corroem por dentro





1 - Sobre a arte do desmerecimento

Uma vez, quando eu era criança e passava as férias em Paraty, chegou um barco de pescadores com sete tubarões. Isso mesmo, sete! Colocaram ali na areia pra deleite da população, que assim como eu, nunca tinha visto um tubarão. Passei ali uma das melhores tardes da minha infância tirando fotos na garupa dos bichos segurando-os pela barbatana, metendo a mão dentro da boca pra contar o número de dentes, danto tapa na cara dos indefesos (e defuntos) animais e tudo o mais que me vinha à cabeça pra vingar todas as vítimas do filme do Spielberg.

Foi então que todo essa alegria pueril veio abaixo com um comentário de um rapaz que estava do meu lado:

- Sabia que isso aí não é tubarão?
- Não?
- Não.
- Que que é, então?
- Cação!
- E aquele ali do lado?
- Cação, também. Todos os sete. Tubarão é maior, esses aí são muito pequenos.

Mania besta têm as pessoas de desmerecer tudo. O carinha ali no maior ar de intelectual querendo convencer-me que aqueles bichos que tinham o mesmo tamanho que eu (1 metro e meio na época) eram muito pequenos, certamente pensando que todo tubarão tem que ter o tamanho daquele do filme. Só hoje, com a tecnologia do google, pude descobrir que cação non ecziste! É tudo tubarão, sendo que cação foi um nome comercial inventado porque era mais atraente para o consumidor do que vender carne de tubarão, que é um nome que remete a sentimentos de medo, pavor, sangue. Sem contar que para um restaurante de beira de praia anunciar carne de tubarão no cardápio é afirmar que naquela praia há tubarões, o que não é nada bom pro turismo.

Enfim, o tempo e o google me deu a razão, mas o sentimento de revolta contra o rapaz intelectual de beira de praia continua, destruiu uma das melhores tardes da minha infância só pra bancar o fodão. Por mim, deveriam jogá-lo num tanque cheio de "cações" de mais de dois metros com uma picanha ensanguentada amarrada na bunda e falar pra ele:

- Pode nadar tranquilo, é tudo cação, tubarão é maior!







2 - Assim nasce um psicopata


Olha que estranho, nessa mesma tarde, que até o episódio narrado acima estava divertidíssima, aconteceu outro causo humilhante. Havia um grupo de crianças da minha idade conversando sobre os defuntos animais ali estirados pela areia, até que escutei a conversa chegar ao impasse de se camarão é peixe ou não é.

Resolvi que era meu momento de bancar o sabe-tudo e me intrometi na conversa dizendo a coisa mais mongolóide possível:

- Camarão é um fruto do mar.

Pese ao absurdo da minha afirmação, minha base de raciocínio era boa, todo restaurante que eu ia o cardápio era separado entre uma página para peixes (onde não se encontrava o camarão) e outra para frutos do mar (ali tinha camarão), logo, o camarão era um fruto do mar, ainda que não era essa a resposta que os meninos estavam esperando. Mas, o mais legal foi a reação deles:

- Eu, hein!? Quem é esse cara?
- É amigo seu?
- Meu não, nunca vi.
- Ué, mas chegou falando assim, do nada.
- É, parece maluco.

Até que um resolveu falar comigo:

- Pô, amigo, na moral, como é que tu chega assim do nada se metendo na conversa dos outros? Alguém pediu tua opinião? Conhece alguém aqui?

Me retirei com o rabo entre as pernas. Até hoje tenho dificuldade pra puxar assunto com estranhos e acredito que seja culpa desse episódio. Enfim, há várias maneiras de estragar uma tarde feliz.

A pergunta que não quer calar, é: Por que não tratei o cara do cação com a mesma "delicadeza"? Aposto que o infeliz deve estar até hoje percorrendo o litoral brasileiro convencendo criancinhas felizes que elas nunca verão um tubarão, só cação.

Marcadores:


9 de outubro de 2008

 

Promovendo uma promoção






Uma revista aqui da Espanha tá oferecendo um GPS pra quem bolar a melhor legenda pra essa foto. Se vocês tiverem alguma idéia, deixem nos comentários que eu envio pra revista, e se for o vencedor eu vendo o GPS e rachamos o dinheiro, já que eu vou ter que arcar com as despesas de mandar sua frase, uns 2 euros por cada SMS.



A frase original era: Parece então que Além de fazer monólogos, as vaginas também andam de bicicleta.

A frase que eu mandei foi: Rápido, um colchão que minha menstruação tá vindo!


Aguardo sugestões.







7 de outubro de 2008

 

Caminhando, caminhando... e eis que eu fiz uma piada!


Sim, eu fiz uma piada e vou contá-la nesse texto. Uma daquelas minhas piadas que vocês já estão acostumados, mas isso é o de menos, o importante foi o caminho que eu segui até chegar a ela.

Durante esses dias de ausência nesse blog coloquei toda minha vida em xeque: meu trabalho, minhas convicções, minha permanência na Europa, meu círculo social, minha meia colorida de bichinhos e obviamente a existência do Hombre Maíz.

Não sou supersticioso, mas pode ter alguma relação com minha visita a Santiago de Compostela, dizem que quem peregrina pra lá sempre volta com outras idéias e disposto a mudar de vida. Daí você diz: - Opa! Pera lá! Peregrinação? Você mesmo contou no blog que foi pra lá de trem e que demorou vinte minutos! - Daí eu respondo: E a cidade, como um ser abstrato, sabe lá por acaso se eu vim de trem, ou de camelo, ou de patinete? Se a lenda é que as pessoas que vão a Santiago recebem uma revelação eu não tenho culpa de ter encontrado um meio mais cômodo, ou vocês acham que o espírito do apóstolo fica lá perdendo seu tempo fazendo uma lista dos passageiros do trem pra não revelar nada pra eles. E pra distinguir o pessoal do trem dos peregrinos no meio daquela muvuca toda? Mais fácil revelar pra todo mundo que chega até lá. Mas, então eu ia contar uma piada.

Eis que a revelação não veio no momento exato de minha chegada à cidade, ficou guardada para um momento mais oportuno, quando eu pensei que já tinha jogado a toalha e estava disposto a aceitar nossa condição humana de fruto do acaso do Big Bang, caminhando, caminhando por aí cheguei a uma praça. Uma praça com uma escola e de frente pra escola um banco de praça. Parecia tudo armado para a revelação: Naquele banco de praça havia uma adolescente virgem (da narina esquerda) acompanhada de três amigos da mesma idade. Quis o destino que meu caminho cruzasse com aquela estreita passagem entre o banco e o portão da escola.

Já fui adolescente, sei como eles pensam. Eu, um sujeito até então resignado à minha inutilidade caminhando cabisbaixo, solitário e inseguro era alvo fácil para uma piadinha. Eu sentia que eles iam aprontar alguma assim que eu passasse por eles e era tarde demais pra dar meia-volta. Respirei fundo e continuei minha marcha moribunda. "Que será que eles vão dizer?", pensava. "Meu cabelo? Minha roupa? Minha barba? De onde eles vão tirar motivo pra uma gracinha?" Tentava inutilmente fazer uma rápida avaliação de mim mesmo antes de encarar meus algozes, "meu zíper não está aberto, não tem nada em mim que possa ser motivo de piada. Que será que eles vão inventar?" Pensava a vinte metros do banco de praça, foi quando decidi deixar o acaso decidir, baixei a cabeça e passei em frente aos meninotes torcendo pra que aquela agonia acabasse de uma vez. Já havia recém ultrapassado o banco e nada de gracinha. "Cadê a gracinha?" Questionava. "Ah, é agora que eles vão dizer algo, esqueci que gostam de falar por trás, pra dar tempo de correr" Mas, nada. Já havia passado uns dez passos do portão da escola e o silêncio ainda reinava, parecia que dessa vez iria me safar, respirei confiante e apertei o passo, foi quando ouvi uma vozinha bem fininha e debochada:

- Cabeza Cono!

Soou como uma cabeçada no pau do nariz. Eu esperava tudo, menos isso. Cabeça de cone é sacanagem! Nego tava exagerando. Fala do meu nariz, fala das minhas costeletas, mas não zoa minha cabeça que eu fico puto, mais ainda pela falta de nexo da ofensa, visto que eu tenho tanto cabelo que é impossível alguém adivinhar o formato da minha cabeça (não é de cone, juro).

Aquilo foi demais até pra um sujeito resignado, pensei em voltar lá nos moleques e distribuir safanões, ou pelo menos botar dedo na cara: - Cabeza cono un carajo! Hijoputa! Cheguei a diminuir o passo, levantei a cabeça disposto a voltar no banco e então vi a revelação a alguns passos a minha frente: Um homem com uma verdadeira cabeça de cone!

Não era dirigida a mim a ofensa, e sim ao verdadeiro cabeza cono que provavelmente passou junto comigo pelo portão da escola, e eu como estava de cabeça baixa esperando o pior não o vi passar.

Acelerei mais ainda o passo disposto a alcançar o cabeza cono e poder ver seu rosto de frente. Quanto mais me aproximava, mais crua se tornava a mensagem: Aquele homem realmente tinha uma cabeça de cone, não foi uma metáfora dos meninos, foi uma constatação (nem por isso menos cruel e mal educada)! Muitos apelidos surgem do exagero, mas aquele veio do óbvio, pra se ter uma idéia figurativa da situação, digamos que o cabeza cono era como esse cara aqui:




E essa era a revelação que o apóstolo havia guardado pra mim: O mundo foi pras cucuias! As pessoas perderam o limite. Chamar de cabeza cono um sujeito que realmente tem uma cabeça de cone é cruel demais. É como passar por uma pessoa em cadeira de rodas e gritar "Acelera, Ayrton!" Aqueles estudantes (?) eram o reflexo da nossa sociedade. Provavelmente teriam debochado de um cego ou de um perneta se tivessem a oportunidade de cruzar com um naquele dia.

Se você parar para analisar os apelidos das pessoas que formam seu círculo social, verá que eles seguem duas regras:

1 - Exagerar o detalhe

2 - Minimizar o exagero

Por isso chamamos carinhosamente alguém completamente cego de "ceguinho", enquanto o amigo que tem uns míseros graus de miopia é quatro-olhos!

No meu antigo bairro tinha um menino que não só era deficiente mental como também tinha o rosto deformado, tipo achatado como se tivessem dado com uma frigideira na cara. Era conhecido carinhosamente como Leandro Maluquinho. Só isso. Como se ele fosse um sapequinha como o personagem do Ziraldo. Todo mundo sabia que não era assim, que de maluquinho ele não tinha nada, tinha era uma noção bem escassa da realidade a ponto de uma vez ter empurrado um amigo nosso de cima de um muro fazendo o garoto quebrar os dez dedos dos pés. Ainda assim ele era só o Leandro Maluquinho. Por outro lado um amigo nosso completamente saudável salvo o fato de gostar de video-game um pouquinho mais do que as demais pessoas era chamado abertamente de Junior Lerdão. Ai de quem chamasse o Leandro de lerdão e pobre de quem chamasse o Junior de maluquinho. Lembra que eu ia contar uma piada?

Essa era a lógica que faltava naqueles garotos do banco. O episódio foi como um chamado, um alerta! Um alerta sobre o abismo do bizarro que nos rodea. Bizarro como quando eu conheci um homem em Ibiza que era famoso em toda ilha por ter pego Aids do Freedie Mercury. Bizarro como quando eu descobri que quase todos os raps que eu gosto são cantados por caras brancos. Bizarro como olhar pra dentro de si e reconhecer que você envelhece mas sua fantasia sexual mais ativa ainda é uma loira peituda fazendo um cachorro-quente com seu pênis. O mundo é bizarro! O mundo é Eric Moussambani cruzando uma piscina olímpica com a cabeça fora d'agua. É a Angélica cantando Cranberries. A vida é cruel como um Brasil x França e Santiago, o apóstolo, queria que eu fizesse algo.

Olhei pra dentro de mim e vi que precisava me reformular pra mudar o mundo de dentro pra fora. Precisava me superar, me destacar. Levo sete anos em hotelaria e ela seria a mesma com ou sem mim. Precisava começar a deixar minhas primeiras marcas, por mais pequenas que fossem. Tinha que abandonar a hotelaria, mas deixar um registro, então mergulhei nos confins de mim mesmo, meditei e inventei três sabores de milk-shake e um cocktail que eu batizei com o nome de Velha de camisola sem calcinha, ainda que eu saiba que acabará sendo abreviado por Velha de Camisola (receita no fim do texto, depois da piada) para pelo menos ter a certeza que meu nome figuraria em alguma obra na posteridade (como o menu da cafeteria onde eu trabalho, por exemplo). Pronto, minha contribuição pra hotelaria estava completa, faltava o mundo (e a piada, sem esquecer da piada).

Então vi que eu tinha que buscar aquilo que eu era bom e fazer disso uma arma contra o absurdo. E no que eu sou bom? Fazer piadas, lógico! Ja fiz umas sessenta, e de graça! Por que havia parado? Como pude ser tão descuidado com meu verdadeiro dom? Santiago, o apóstolo me mostrou o caminho e eu compartilho com vocês, agora que já sabem os tortuosos caminhos que tive que atravessar para elaborar essa magnífica piada, espero que desfrutem:

- Por quê o tenista ficou feliz por ter ganho uma partida contra uma saudita de dois metros?


Resposta: Por ter vencido um grande islã! Hahahahahahhaahahahahah Nossa Senhora! Valeu Santiago, querido apóstolo, sem você eu não teria conseguido!



Receitas:

Milk-Shake de Banana Frita

- 1 banana
- 5 nozes
- 3 bolas de sorvete de nata ou creme
- Leite

Corte a banana em duas (no sentido longitudinal, creio) e frite. Logo coloque no liquidificador com o resto dos ingredientes e bata.


Milk-Shake de Baunilha com canela

- Três bolas de sorvete de baunilha
- 3 biscoitos de canela (o que vc preferir, já que o que eu uso não tem no Brasil)
- Leite

Bata tudo no liquidificador e decore com um pouco de canela em pó.


Milk-Shake de morango com pimenta

- Três bolas de sorvete de nata ou creme
- Cointreau
- Açúcar
-Meio limão
- Pimenta negra em pó.
- Uma caixa de morangos
- Leite

Primeiro você deve flambear os morangos no cointrau com o suco do meio limão e uma xícara de açúcar até obter uma calda espessa.

Uma vez obtida a calda, misture um pouquinho da mesma junto com o sorvete e um pouco de pimenta a gosto e leite. bata tudo no liquidificador.


Velha de Camisola Sem Calcinha

- Oito uvas roxas
- meio limão cortado em três partes
- Açúcar
- Gelo picado
- Uma garrafa de Whisky Peché. Isso aqui:







Amasse num copo as uvas e os três gomos de limão junto com o açúcar. Adicione gelo até a boca do copo. Complete com o whiky peché até aproximadamente um dedo da boca do copo. Remexa com uma colher ou bata na coctelera e sirva.

Marcadores:


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

eXTReMe Tracker