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11 de março de 2006

 

O poeta, a estátua e o rosto de Cristo na Rocinha


No dia que eu voltei dos EUA, fui junto com Lee Andrew e minha amiga Tatiana comemorar meu retorno na Bunker, uma boate de Copacabana. Naquela época tínhamos um grupo de rock que só tinha uma canção: Garota de Bangu, que com o meu retorno ganhou nova letra e novo título: Garota de Bangcock. Cabe lembrar que ambas eram toscas, ainda que a melodia era bem legal e eu reaproveitei pra logo criar El Chico de Madrid, essa é inédita, só eu conheço, mas, devo recordar que ainda que seja a melhor de todas as versões anteriores, ainda assim é de doer e eu não publicarei aqui.
Na verdade, tínhamos mais músicas, mas eram apenas planos, algumas já tinham até letras escritas, mas, a única que chegamos a gravar foi essa mesma que eu citei, mas, ninguém nunca escutará essa demo que gravamos porque só eu tinha a original e já fiz o favor de dar sumisso nela, mas, posso adiantar que não perdem nada, era de doer os rins.
Entre as músicas inacabadas estavam os hits: Colégio Santa Maricota, O tempo, 911 e Maitê. É justamente sobre essa última que quero comentar.
Lembra que eu estava falando do meu retorno ao Brasil? Foi nesse dia que surgiu a inspiração pra essa pérola, havíamos saído da boate, tinha sido divertido, principalmente porque a Tati vomitou num banco e um carinha sentou nele, mas, fora isso teve mais coisas legais também. Assim que, saímos da boate e fomos à praia de Copacabana pra ver a estátua de Carlos Drummond de Andrade, essa da foto. Ficamos ali batendo papo com Drummond, abraçamos ele, beijamos a careca dele, sentamos no colo, foi bacana. Até que surgiu um carinha muito estranho numa motinho estilo Vespa, bem velhinha. Estacionou a moto e começou a puxar papo com a gente. Dizia que estava voltando de Ipanema, adorava Drummond, era poeta, inventor de máquinas, havia bolado um novo cartão postal pro Rio de Janeiro, morava em Nova Iguaçu e era fã da Maitê Proença. Tudo isso numa pessoa só.
Só o fato dele morar em Nova Iguaçu e ter ido de motinho beber uma cerveja com os amigos em Ipanema já valia umas risadas, quem conhece o Rio de Janeiro pode imaginar a distância, mas, acreditem, isso era o menos engraçado naquele sujeito.
Sobre o novo cartão postal para o Rio de Janeiro ele contou pra gente. A idéia, que segundo ele já havia sido mandada ao prefeito e estava sendo aprovada era de que o governo pagasse algumas famílias da favela da Rocinha pra deixar a luz acesa a noite inteira. Não todos, apenas alguns barracos em posição estratégica, de modo que as luzes formassem uma silhueta do rosto de Jesus Cristo. Note que o difícil nem é obrigar as pessoas a manter a luz acesa, e sim, convencer os outros que não formam parte do esquema a apagá-las, mas, isso poderia ser negociado.
Sobre ser inventor de máquinas, na verdade, acho que era apenas uma tal de máquina do sexo, não lembro se havia outras. Chegou até a mostrar uma foto pra gente num jornal amassado, mas, tava muito pequena e nem dava pra ver nada. Segundo ele, já estava inclusive disponível para venda e o Jô Soares havia entrevistado ele pra falar sobre sua invenção. Estão curiosos pra saber como funcionava? Explico: ao parecer eram duas cadeiras mecânicas que ficavam posicionadas uma de frente pra outra, daí apertava um botãozinho e elas iam de encontro, só não lembro se havia um botãozinho de vai-vem. Genial? Pode ser, mas, a Tati lembrou bem que essa tal cadeira já havia aparecido no Fantástico, patenteada por um norte-americano, e eu tenho vagas lembranças dessa reportagem também.
Sobre ser poeta e fã da Maitê Proença, ele disse que inclusive tinha escrito um poema pra ela e havia passado uma tarde inteira esperando por sua musa na saída do Projac só para declamá-lo. Segundo ele, o segurança dela havia tentado afastá-lo, mas, a atriz saiu em sua defesa pedindo que deixasse o rapaz se expressar. Só quero comentar que já vi a Maitê Proença na rua e ela não anda com seguranças, mas, tudo bem, podia ser um funcionário do Projac.
Ou seja, tudo no cara parecia mentira, mas, uma coisa era verdade, ele tinha realmente feito um poema pra Maitê Proença. Horroroso. Ele declamou pra gente. Detalhe que foi ele que insistiu para declamar, ninguém pediu nada, mas, tampouco lhe censuramos. Não recordo muito bem como era o poema, só sei que era ruim e cheio de bucolismo, coisa que odeio, não tem coisa mais chata do que isso de comparar mulher com o mar, estrelas, vento, me poupe.
Pra não dizer que não lembro de nada nada do poema, lembro que o último verso era um trocadilho, algo como: Maitê, mais te ter.
E foi baseando-se na história desse figura que surgiu a música "Maitê" que eu fiz a letra, mas, nunca havia mostrado pra ninguém, nem pro pessoal da banda, pra falar a verdade, tem uma menina chamado Maitê que conversa pelo messenger comigo e eu mostrei pra ela a letra da música, só ela. E como esses dias, estive conversando com o Lee Andrew sobre esse sujeito e disse também da existência da letra inédita, ele pediu que eu lhe mostrasse, assim que, estou disponibilizando pra todos os leitores desse blog, e adoraria que alguém gravasse ela, é só entrar em contato comigo que eu explico como era a melodia, mas, se quiser criar outra, tudo bem. Aí vai:


Maitê

Maitê, quero mai te ter
Eu sou poeta, eu gosto de Drummond
Invento máquinas de sexo e lazer
Me entrevistaram na televisão

Eu tive a idéia de um cartão postal
Mandei pro prefeito, ele achou bem legal
Eu vim de longe, de Nova Iguaçu
Mas bebo a vida lá na Zona Sul

A tarde inteira esperando você
Eu vi teu rosto como uma ilusão
Te fiz um poema e trouxe pra ler
Você gostou, chamou sua atenção

Eu tenho idéias novas sobre o amor
Me chamam de louco, mas, louco não sou
Eu sento e assisto o tempo passar
Há tanto que sei que não sei explicar

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Uma pequena informação inútil sobre a origem do nosso gênio de New Iguaçu City, cujo nome eu já nem lembro mais: Cerâmica!!! O poeta, cientista e mais sei la o que, em questão, era residente de um lugar em N.I. chamado Cerâmica. Enfim, espero ter contribuído para nada.
 
claro que contribui para o nada abundante desse blog. sem dúvida.
Cerâmica é de doer, nem lembrava disso.
Mas, aí..vai gravar o som?
 
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