.comment-link {margin-left:.6em;}

6 de setembro de 2006

 

Conto


O concurso de clichês
(autor: El hombre maíz)

Era um concurso diferente de qualquer outro, disputavam quem era a pessoa mais clichê do mundo, quem tinha menos originalidade em escolher sua vida sem cair em estereótipos manjados. Por isso, aquele que provasse ser o maior perdedor sairia vencedor. Os candidatos se apresentavam num palco onde eram recebidos por um apresentador, o público ficava numa área delimitada e protegida onde vaiavam e gritavam palavrões a cada participante, já que quem gosta de aplausos são pessoas exibidas, excêntricas e metidas a besta que teimam em ser originais. A primeira a se apresentar foi uma linda jovem.

- Como você se chama? - Perguntou o apresentador.

- Alessandra, mas, meus amigos me chamam de Lelé ou Leca.

(vaias e vaias)

- E o que você faz da vida?

- Eu estudo nutrição numa faculdade que meu pai paga pra mim.

- Fale mais de você.

- Ah, eu gosto de academia, açaí, micareta, beijar na boca, vivo cada dia como se fosse o último, sabe ..

- Vive cada dia como se fosse o último? Que original, acho que nunca ouvi alguém dizer isso.

A platéia ensandecida comentava entre si:

- Igual aquela que saiu na revista.

- Igual aquela modelo.

- Igual aquela atriz.

- Igual aquela modelo atriz que saiu na revista.

- Quanta falta de originalidade!

- Que cabecinha oca!

- Será que ela sabe fazer gelo ou perdeu a receita?

E foi tanta vaia e obscenidades gritadas que ninguém mais ouvia o que dizia a bonequinha pelo microfone. Antes de sair ainda teve tempo de dar as costas e levantar a camisa pra que vissem uma tatuagem tribal que ela tinha no lombo.
Logo apresentou-se um rapaz aparentemente maltrapilho, mas, quem o viu de perto pôde notar que suas roupas rasgadas não pareciam tão deterioradas, como se as tivesse rasgado ainda novas ou as tivesse comprado assim mesmo.

(De entrada recebe uma latinha na cabeça)

- Como você se chama?

- Audrey Klebold.

- Mas, você é brasileiro. Teus pais te batizaram assim?

- Não, meus pais me chamam de Betinho. Audrey Klebold é um pseudônimo que eu inventei. É a junção da beleza e ternura de Audrey Hepburn com o caráter cruel de Dylan Klebold, um dos assassinos da escola de Columbine.

- Ah, sim. E o que você faz da vida?

- Eu sou estudante. To no segundo grau técnico de informática. Gosto muito de computadores, sabe, jogar doom, mortal kombat ..

- Fale mais de você

- Po, eu gosto de ir pro shopping com meus amigos, a gente vai tudo de preto e fica lá na praça de alimentação comendo hamburguer de cara amarrada olhando pra todo mundo com nojo. Tenho uma banda com meus amigos, meu sonho é ficar famoso e dar entrevistas dizendo que to sempre drogadaço e que a vida é uma merda, daí depois que eu conseguir tudo o que eu sempre quis eu vou me suicidar.

A platéia fazia sua parte:

- Igual aquele cantor da MTV.

- Igual aquele cantor da MTV Também.

- E tem também aquele cantor da MTV, muito parecido.

- Mas, sabe com quem ele se parece mesmo? Com aquele cantor da MTV.

E a platéia um pouco mais exaltada jogava latinhas, fluídos e excrementos contra o niilista júnior, para que já fosse se acostumando a saborear a merda que seria sua vida.
O terceiro foi um senhor.

- Como você se chama? - Perguntou o apresentador.

- Arnaldo Campos.

(Houve uma tentativa de invasão)

- E o que você faz?

- Sou um jornalista imbecil e tendencioso de direita.

- Fale de sua vida.

- Bem, durante minha juventude, nos meus primeiros anos de jornalismo eu era famoso pelos meus argumentos esquerdistas, sabe, eu era contra a ditadura, então fui morar no exterior, daí quando voltei eu era mais velho, já vivíamos uma democracia, eu fui ficando mais acomodado, acomodado, comecei a ver o capitalismo com outros olhos, olhos de fascinação, e pouco a pouco fui contradizendo tudo que eu havia dito antes, ainda que usufruía da fama que aquelas palavras haviam gerado. Hoje me dedico a olhar meu umbigo, ir ao cinema com o Caetano Veloso, falar mal do PT e retratar todo esquerdista como um imbecil em potencial, porque ser de direita é amadurecer, e como eu mudei minha cabeça, acho que todos que pensavam como eu naquela época devem pensar como eu agora.

A platéia parecia ainda mais furiosa e não se continha:

- Igual aquele âncora.

- Igual aquele da Veja.

- Igual aquele político.

- Igual aquele político que era âncora e escrevia na Veja.

- Será que ele assiste Manhattan Connection?

E nem toda a segurança fortemente preparada conseguiu conter a ira daqueles espectadores que invadiram o palco pra dar porrada naquele sujeito arrogante. Morreu ali mesmo, vítima do próprio ego, como sempre quis.

Marcadores:


Comments:
Aha então o garoto gosta de escrever contos... já tinha visto algumas comunidades sobre contos em seu orkut, mas não levei a sério. Interessante. Voltarei com mais calma.
Ah com relação a sua mensagem, ela já foi devidamente apagada, assim como o profile todo :)
Bjos
 
uma característica dos seus contos é o final sempre infeliz... cuidado pra não ficar clichê, hein? hehehe

brincando. Mas eu fiquei com pena do velho. Se fosse pra matar todo mundo que vive mais ou menos igual, acho que lá se ia 90% do mundo, eu inclusa. Mas tá, por alguns ângulos, até que nao seria tão mal assim...

Olha, tá lá na caixa do outro comentário o testezinho quando quiseres fazer, viu.
 
Milena:

Deletou seu orkur? Volta, vai! Quem me vai deixar scraps mal-educados agora?


Marília:

Taí, nunca tinha reparado nisso do final triste. Dei uma conferida, e de 19 contos que publiquei aqui, apenas 5 não possuem final infeliz (sapo do matão, faça seu pedido, fascinação, a queda de um mestre e morrer de infância).
Valeu pelo toque.
ah, pessoas que ficam se reunindo em grupinhos estereotipados têm que levar uns cacetes mesmo.
 
Fico feliz em saber que minha presença é tão importante na sua vida. É uma pena que você prefira atirar farpas ao invés de conversar.
 
Milena:

Também te amo. Se quer conversar, meu msn tá lá no meu profile do orkut, mas, vc pode continuar usando a caixa de comentários do blog, é bom pq daí enche a caixa de comentários e dá a impressão de que o blog é lido por milhares.
besos
 
Sr Thiago Medeiros nem sei qual é o seu email, mas espero que seja este cara-de-milho-@-hotmail.com
P.s- "também te amo", esta frase é minha.
Baccio
 
Postar um comentário



<< Página inicial

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

eXTReMe Tracker