21 de setembro de 2006
Contos
A mulher que entrou na alma do solitário
(autor: El hombre maíz)
- Tá muito escuro aqui. Não dá pre ver nada.
- E se desse não haveria nada para ver; e se houvesse, não seria algo agradável.
- Como você veio parar aqui? Faz muito tempo?
- Não sei. Não me lembro de haver estado em outro lugar.
- E ninguém veio te tirar daqui?
- Ninguém havia entrado aqui antes de você. Alguns vêm, se aproximam, dão uma olhada de longe só pra matar a curiosidade e vão embora sem nem se despedir.
- Parece mentira que ninguém tenha entrado. Há portas espalhadas por toda a parede. Nunca vi tantas portas darem no mesmo lugar. Foi você que as colocou?
- Sim, foi num momento de desespero. Depois aprendi que era isso que atraia os curiosos, muitas portas. Era algo incomum, por isso vinham olhar, mas, não entravam, já estavam saciados, aliás, tinham um certo medo de saber o que tinha detrás das portas, não lhes culpo, é realmente uma escuridão medonha. Hoje sei que errei, deveria ter deixado só uma entrada, é o suficiente pra quem quer realmente passar, mas, estou muito inseguro para fechá-las.
- Uma porta estaria bem, há quem cometa o erro de fechar todas sem deixar nenhuma janelinha sequer. Você errou por deixar acessos demais. É paradoxal.
- Tantas portas e você entrou pela janela.
- E entraria pelo buraco da fechadura ou pelo olho mágico só pra que não me confundisse com os curiosos que só chegam até a entrada.
- Me leva embora?
- Vamos.
- Pra onde?
- Pra onde você quiser.
- Fazer o que?
- Tudo que você goste.
- Só sei do que não gosto.
- E o que é que você não gosta?
- Tudo que estive fazendo.
- E o que você esteve fazendo?
- Nada. Tava esperando você chegar pra começar.
***
Visions of Johanna - Bob Dylan
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Comments:
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a propósito, a música do tom waits cai muito bem com a cena do garçom indo embora e o cliente olhando pro vazio pensando no interior dos pepinos do mar.
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# así dijo 
: 12:57 AM
: 12:57 AM 
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