6 de setembro de 2006
Diálogos surreais da vida real
Claustrofobia
- Você disse que tem claustrofobia.
- Sim.
- Claustrofobia de que?
- Como assim?
- Tem vários tipos de claustrofobia, ué! Claustrofobia de aranhas, claustrofobia de altura, claustrofobia de escuro ...
A solidão é tetris
- Vou comprar outro celular. Esse meu é uma merda.
- O meu também é, mas, não vou trocar. Enquanto fizer chamadas tá valendo.
- Mas o meu tá ultrapassado.
- Vixe, o meu eu comprei três anos atrás e era o mais barato da loja, imagina agora.
- Que marca é?
- Siemens.
- Siemens é bom.
- Deve ser, mas, é bem básico. Só faz chamadas e manda mensagens, nada mais. Nem musiquinha, nem fotinho, nem joguinho..
- Nada?
- Acho que tem uns três joguinhos, mas, eu nunca jogo.
- Não conheço ninguém que jogue no celular. Deve ser coisa de gente muito solitária.
- Nada disso. Eu sou muito solitário e não jogo no celular.
Sobre o porquê de eu não conversar com idosos.
- Acho que se pudesse escolher, eu morreria com oitenta anos.
- Oitenta?
- Sim. É tempo bastante. Depois dos oitenta a tendência é piorar mesmo. Pra que ficar vivo?
- Oitenta é muito novo.
- Fala sério! Oitenta é muito novo? Com essa idade já tá por aí ranzinza dando no saco de todo mundo. Novo pra que? Se deixou alguma coisa por fazer, não será com oitenta que você ai correr atrás.
- Poxa, mas, eu tenho oitenta e dois.
A manchinha de Lorena
- Tá vendo essa mancha na minha barriga? Ninguém sabe como apareceu. Minha mãe diz que eu não nasci com ela, e eu também não lembro de ter essa mancha quando criança.
- Eu tenho uma também, mas, é na perna. Mina mãe diz que eu não nasci com ela. Pera que eu vou mostrar.
- Na perna? Perna é muito vago. Começa no tornozelo e sabe lá onde termina.
- É perto do joelho.
- Joelho? Nem mostra, então. Joelho eu também tenho. Dois, ainda por cima.