11 de fevereiro de 2007
O poema da semana

Adoro poemas escritos por pessoas que não se intitulam poetas. O Veríssimo, por exemplo, quando se mete a escrever um poema sempre acerta a mão. Este é meu preferido, e eu estive buscando no Google desde que eu tenho internet em casa, só fui encontrar no orkut, numa comunidade de fãs dos escritor.
O último
O último será caçado no sertão
feito um cão.
Raça danada!
Carne e osso
e não morre.
Ganhava pouco, cortaram.
Ganhava nada, tiraram.
Acabou o rato
comeu o sapato.
Acabou o pirão
comeu o chão.
Acabou o chão
fez das tripas
caldeirão.
Só falta esse.
Pega que é o derradeiro.
Mata que é brasileiro!
Bom sujeito...
Está bem, não é perfeito.
Sabe como é gentinha.
Mesquinha.
sem linha.
sem CIC.
Aliás, nem Bic.
Sem arcada dentária
ou referência bancária.
Decente
crente
dolente
paciente.
Mas com sse pequeno defeito:
Quer viver de qualquer jeito!
Sem caloria
só pode ser mania.
Sem metabolismo
é exibicionismo.
Cerca que ele é valente.
Pode matar que é gente.
Eram milhões, sobrou isso.
Esse corpo de caniço.
Esse peito, essa tosse
essa caveia precoce.
Esse bicho.
esse lixo.
esse homem à escabeche
- E no entanto, se mexe.
Fez-se o que deu
e ele sobreviveu.
Doença
escarrou.
Fome
enganou.
Recessão
nem tou.
Pois vai a paulada.
raça danada.
Pra aprender
a não nascer.
E se nascer de novo
não ser povo.
O último será caçado
e estraçalhado
e seu corpo salgado.
Mas sua fêmea fugirá da briga
e terá outro na barriga.
Marcadores: Poemas
Comments:
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Leio Veríssimo direto e reto! E olha que naum conhecia este lado "poeta" dele!
Muito show!
Valeu, Thiago!
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Muito show!
Valeu, Thiago!
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