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24 de maio de 2007

 

Restaurante de porrada





Quando um Homem de Neandhertal se sentia em perigo por falta de alimentos, era comum assassinar suas crias recém-nascidas para evitar uma boca mais na mesa e também para conseguir um braço mais na caça, já que nesse caso a mãe não precisaria mais ficar na caverna amamentando nem cuidando ninguém. Isso foi há umas centenas de milhares de anos, de lá pra cá a relação entre pais e filhos foram amenizando-se pouco a pouco.

Eu considero como um dos maiores indicadores da evolução humana o amansamento nas relações entre pais e filhos. Reparem que nossos pais costumam contar que nossos avós lhes aplicavam castigos muito mais rigorosos, e que nossos avós, por sua vez, dizem o mesmo de nossos bisavós, e assim vamos até chegar ao Homem de Neanderthal.

O ponto culminante dessa evolução é a criança européia. Caso você esteja caminhando por qualquer cidade da Europa e um moleque te arremessar uma pedra na cabeça, você corre sério risco de levar uma bronca da mãe do menino por ter metido a cabeça na pedra de seu filho. E não digo isso como um exemplo irreal. Numa praia onde eu trabalhava eu já vi um menino holandês rachar a coco do próprio pai com um pedregulho e ainda sair chorando porque sua mãe lhe havia dito com todo carinho que ele agira errado. Depois ainda pegou o moleque no colo, fez carinho, e pediu pro marido não gemer muito porque tava assustando o moleque. No dia seguinte voltou a família com o pai sorridente exibindo três pontos na cabeça. Assim são as coisas por essas bandas. Em quatro anos que moro aqui, nunca vi um pai batendo no filho.

Baseando-me nessa e outras histórias que eu vi aqui pela Europa eu chego à conclusão que se por acaso as surras que eu levei da minha mãe no Brasil quinze anos atrás tivessem sido aplicadas na Europa do dia de hoje eu poderia até conseguir uma ordem de afastamento
, mas a verdade é que meus pais me bateram pouco (pro padrão da época!), ainda mais quando comparo com as surras que levavam meus amigos daqueles anos.

Eu tinha um vizinho, por exemplo, que volta e meia aparecia com hematomas. Tinha das mais variadas formas: Rider, Havaianas, cinto e até o histórico hematoma de golpes de... ESCUMADEIRA! que ele exibia sem nenhuma vergonha porque achava que apanhar da mãe ia fazer dele melhor homem no futuro. Mais do que isso, ainda me esnobava porque sabia que meus pais não eram muito severos e dizia que por isso eu não tinha muito futuro. Hoje ele é entregador de pizzas e eu sou garçon. Proponho um empate!

Mas, enfim, dei toda essa volta pra falar desse meu amigo que contava até com certo deleite os cascudos que sua mãe lhe dava. Uma vez eu comentei esse fato com o pessoal e concordamos que pra ele apanhar era um prazer quase tão agradável quanto comer e daí surgiu a idéia do Restaurante de Porrada, que seria criado especialmente pra ele se deliciar.

No início sugerimos um rodízio, onde ele se sentava à mesa e vários garçons com variados porretes iam se revezando em descer o pau no coitado. Depois foi o Restaurante de Porrada a Kilo onde ele passava por um enorme buffet de armas medievais, colocava na bandeja aquelas que lhe agradassem, logo escolhia um carrasco, pesava junto com as armas e ia pra uma salinha ser surrado. Quanto mais pesada as armas e o carrasco, mais forte a surra e mais cara saía a conta.

Mas o mais legal veio depois com nossa idéia de um restaurante de porrada A La Carte, que passávamos horas imaginando como seria e eu tentei agora relembrar nesse texto todas as peripécias de meu vizinho num elegante e requintado restaurante de porrada:





(Na recepção)

- (sotaque francês) Boa noite senhor. Mesa na varanda?

- Prefiro um porão, é possível?

- Claro, porão de fumantes ou não fumantes?

- Não fumantes, por favor.


(no porão)


-Que tipo de surra vocês servem?

- Temos de tudo. Se quer algo mais tradicional recomendo nossa surra de chicote. Temos também ferro em brasa, corrente, soco-inglês e maça estrela. Já se prefere os sabores do oriente temos vara de bambu, tchaco, tonfa , tortura chinesa e estrelinha ninja. Se prefere algo caseiro podemos te dar uma surra de tamanco, cinto, rabo de tatu, rolo de pastel, vara de vergalhão, vara de araçá e cabo de vassoura.

- A especialidade da casa qual é?

- A especialidade da casa é a surra de pau de dar em doido.

- Ouvi falar muito bem dessa, acho que vou querer sim. Poderia te fazer uma pergunta?

- Sim.

- Aqueles dois na mesa ao lado me parecem familiar, quem são?

- Ah, o da esquerda é o Sávio que jogava no Flamengo e o da direita é o Paulo Nunes.

- Vem muita celebridade aqui?

- Olha, o forte da clientela aqui são as mulheres de malandro, mas às vezes vem gente famosa sim. Esses dois, por exemplo, estão aqui todo fim de semana, adoram apanhar. Quem vem muito aqui também é o Ivo Holanda e o Maguila. Ontem apareceu aqui o Repórter Vesgo do Pânico tomar umas porradinhas com a gente.

- Ah, restaurante de porrada é um ramo que anda crescendo ?

- Sim, muitíssimo. Que tipo de carrasco gostaria para acompanhar sua surra de pau de dar em doido?

- Que carrascos vocês tem?

- Pai alcóolatra, traficante do CV, mestre japonês, playboy da Barra da Tijuca, Tropa de Choque da PM, militante do PSTU, negão de um metro e oitenta e sete, neonazista, militar reformado, mãe estressadona, torcedor da Mancha Verde e cabeça de área argentino.

- Acho que uma mãe estressadona seria perfeito. Adoro uma porradinha caseira.

- Se me permite um conselho, diria que uma mãe estressadona não combina muito bem com uma surra de pau de dar em doido. São melhores acompanhadas de uma surra de tamanco, cinto, vara de vergalhão, vara de araçá ou cabo de vassoura.

- Isso é porque você não conhece minha mãe, aquela bate com o que tiver ao alcance, mas tudo bem, vou seguir seu conselho. Que me diz de um mestre japonês?

- Se meu chefe me escuta vai me matar, mas tenho que ser sincero: Para tomar uma verdadeira surra de um mestre japonês você deveria ir a um restaurante de porrada lá no Japão. Aqui no Brasil é inviável trazê-los porque ganham um salário muito bom lá, então o que os restaurantes brasileiros fazem é chamar esses miscigenados do bairro da Liberdade em São Paulo. Posso te garantir que nenhum restaurante de porradas no Brasil serve uma surra de mestre japonês legítimo. No máximo uma surra de neto de mestre japonês, e alguns restaurantes andam servindo surra de mestre norte-coreano fazendo se passar por japonês, cuidado.

- Que me recomenda então?

- Um negão de um metro e oitenta e sete seria o ideal para acompanhar sua surra de pau de dar em doido.

- E como são seus negrões de um metro e oitenta e sete?

- São de criação própria, apenas negrões selecionados, muito bem alimentados.

- E de que safra?

- 1980

- Não, muito jovens. Prefiro um negrão mais envelhecido. Além do mais não sou fã de negrões nacionais, tem algo importado?

- Tenho um amigo que é gangster em Nova Orleans e toca Trompete numa banda de jazz. Ele veio passar as férias na minha casa e posso chamar ele, só terá um custo adicional do Taxi.

- Hum..negão trompetista norte-americano..nham nham. Pode chamar.

- Então será uma surra de pau de dar em doido aplicada por um gangster negão norte americano de um metro e oitenta e sete que toca trompete numa banda de jazz, certo?

- Certo. Parece suficiente? Não sei como são as porções aqui. São bem servidas?

- Olha, a surra do negão de metro e oitenta e sete com um pau de dar em doido dá até pra duas pessoas, dependendo do apetite pra apanhar e obviamente do preparo físico.

- Não dá pra fazer meia porção?

- Impossível, depois que ele começa a bater só pára quando cansa. Ninguém consegue convencê-lo a parar na metade.

- Bom, preparo físico eu tenho porque apanho desde criança, e apetite pra apanhar nem te conto, é o que mais tenho, poderia apanhar de um exercito. Um coisinha mais: você me disse que servem também surra de cabeça de área argentino.

- Sim, o Simeone.

- Acho que pedirei como entrada.

- Olha, as entradas do Simeone costumam ser muito violentas, desleais e dignas de cartão vermelho. Podem te deixar manco por seis meses. Pra quem pediu de prato principal uma surra de pau de dar em doido aplicada por um negão de um metro e oitenta e sete deveria pedir uma entrada menos forte. Que tal uma do Argel, que jogava no Santos? Temos Júnior Baiano, Odvan, Flávio Conceição e Emerson também.

- Pois fico com a entrada do Argel mesmo. Pode pedir que a entrada não seja por trás? É que eu prefiro levar um carrinho na canela do que na panturrilha.

- Posso sim, o problema é que pro Argel do pescoço pra baixo é tudo canela.

- Perfeito. Poderia trazer também algo pra ir me beliscando enquanto a porrada não vem?

- Vou pedir que venha meu sobrinho, o moleque dá cada beliscão que alucina.

- Ótimo.


(uma hora depois)

- Satisfeito senhor?

- Muito.

- Um cafezinho com bolachas?

- Porra, café numa hora dessas?

- Digo se quer levar umas bolachas do Cafezinho, aquele que jogava no Madureira

- Ah, não sei se aguento mais alguma coisa. Além do mais, café tira o sono.

- Mas o Cafezinho é bem fraquinho, não lembra que ele apanhou até do Romário?

- Verdade, pode trazer então. Me dá só dez minutinhos pra descansar e tentar reimplantar isso aqui. Junto com o cafezinho traga uma mãe estressadona também pra me dar uma surra de sobremesa.

- tamanco ou cinto?

- Pode ser uma surra de escumadeira?

- Nunca ouvi falar, senhor, mas posso providenciar.

- Você precisa mesmo conhecer minha mãe. Vou pedir pra ela trazer o currículo aqui.



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Comments:
Uuuuhuuuuuuuu!!! vlw thiago, teu blog faz falta!! num some mais naum flw? abraço!!!
 
pô , ainda bem que o blog voltou
faz falta mesmo
já tava ficando com medo de não voltar mais
abraço
 
Ahorra El hombre más culto de las zonas tropicales!
Pois moço, apesar de dizerem de mim coisas do tipo "doce de côco", "amor de pessoa", "mosca morta"(mosca morta não), achei um absurdo essa do casal holandês. Ou sou um peludo boçal das cavernas ou essa criança se tornará um destrambelhado, que como aqueles dois de Columbine, vai querer comemorar o aniversário de Hithler explodindo umas dezenas de cabeças com seus rifles.
Ó essa idéia do restaurante de porrada pode dar bode, a clientela vai acabar se apaixonando. Peludos boçais batem nas próprias mulheres como um esporte e asseveram que elas se apaixonam - Se bem que isso é coisa dos trópicos - e eu mesmo que já apanhei do meu pai não achava nada apetecível nisso.
 
caaara, tou me arrebentando de rir aqui. Bom ter vc de volta! Agora vai ter que tirar o atraso de mais de dois meses...
 
Vou marcar um jantar para muitos dos meus alunos no Restaurante da Porrada.
Está fazendo falta para muitos deles (Sim, eu serei uma mamãe neanderthal, quero meus filhos tão bem educados quanto eu fui :P hahaha)
 
Muito bom; ainda mais a vara de vergalhão, vara de araçá e cabo de vassoura. Isso não era de uma banda?
 
Roberto:

Vara de vergalhão, vara de araçá e cabo de vassoura eu tirei de uma música de uma banda underground chamada "Freakanoise", acho. Não lembro o nome da música, mas até já linkei o clipe dessa musica aqui no blog uma vez.
 
Haha, muito bom. Parabéns pelo blog.
 
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