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6 de dezembro de 2007

 

Baseado em fatos reais






Meu abismo, meu abrigo
(autor: El hombre maíz)

O metrô foi enchendo pouco a pouco. Ele que já estava de pé desde que entrara, a cada nova estação era obrigado a se recolher mais para o centro do vagão para deixar espaço aos que entravam, sempre muito superiores aos que saíam.

Entre uma estação e outra, quando os presentes já estavam acomodados e a máquina em movimento, ele tentava encontrá-la com o olhar. Passara toda a viagem observando-a ocasionalmente, chegou inclusive a ser flagrado, mas não se intimidou. Sem perceber, cada vez que se aproximava do centro do vagão, se aproximava dela, que já ubicada no meio, não tinha por onde correr para ceder espaço aos novos tripulantes.

Chegou a estação mais movimentada e a avalanche de trabalhadores empurrou o rapaz definitivamente para o lado da moça. Ele porém, num descuido, baixou seus braços para apalpar a carteira no bolso, e ao terminar a averiguação percebeu que a barra de apoio na qual se sustentara durante a viagem estava totalmente ocupada pelas novas mãos que ali entraram. Dobrou levemente os joelhos pra não perder o equilíbrio na arrancada do trem, e quando este já se movimentava comentou para si, como se esperasse resposta:

- Eu não tenho mais onde me segurar...

Ela cavou uma brecha na barra de sustentação, e lhe indicou secamente, mas solidária:

- Aqui.

Ele sorriu, e continuou:

- Não é isso. Digo que não tenho mais onde me segurar na vida. Família, trabalho, amigos, casamento... todas essas bases nas quais nos apoiamos nas horas difíceis me são omissas ou me trazem mais problemas. O episódio das barras de apoio do metrô acaba de me trazer essa constatação.

Ela, que ouvira tudo olhando-lhe nos olhos, abaixou a cabeça confusa. Logo, movida pela curiosidade, quis continuar e voltou a encará-lo.

- E então, como você ainda não caiu?

- Vou me equilibrando. Um bom livro, um bom filme, um dia de sol ... ontem, por exemplo, meu time ganhou. Três a zero! Mas pode ser que semana que vem a gente perca, já que todo o meio-campo levou o terceiro cartão e vamos ter que usar os reservas. Enfim, são coisas que ajudam a me equilibrar, mas que não me aguentarão numa freada brusca.

Ela não sabia se deveria sorrir, tudo aquilo era muito estranho. Ele a observava sem trégua desde que começara a falar. Ela baixou a cabeça novamente com o riso preso, não aguentou e soltou uma risada afogada, dessa vez olhando para cima, sem mirá-lo. Soltou a mão da barra de apoio com a palma virada para cima como se suplicara e acrescentou:

- Eu também não tenho nada pra poder me segurar.

Baixou a cabeça novamente ainda sorrindo. Quando voltou a encará-lo já estavam apaixonados.

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Os cabeças:

O Lino Resende indicou o blog "Crônicas do Joel" como um blog cabeça. A coisa funciona assim: tive que indicar aqueles que na minha opinião são blogs cabeça, e são cinco. A escolha : Cara de Milho ( EL Superhéroe más nutritivo de mundo); Esculacho e Simpatia (o nome já diz tudo); Lino Resende (não se trata de reciprocidade, justiça seja feita); Marconi Leal (O Marconi Leal é um dos mais meritórios contistas deste país, e está lá, "de grátis na internet") e, enfim, o Rafael Galvão (É um fera, manda muito bem; às vezes é uma fera mesmo - com todo respeito - é bom que se diga, vai que sobra pra mim!). É isso. Amém!
 
Valeu, bacalhau.
 
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