15 de abril de 2008
Contos

Uma de fantasmas
(autor: El Hombre Maíz)
Janaíno estava adormecido em sua cama quando escutou três batidas na janela do seu quarto e acordou assustado. Abriu a janela, olhou pra fora e não viu ninguém. Meteu a cabeça pra dentro do quarto outra vez e deu de cara com o relógio digital que maraca 4:15 da manhã. Ainda sem entender muito bem o que havia acontecido, foi pra cozinha beber um pouco de água, instintivamente olhou para o relógio do microondas e esse marcava as 4:15 da manhã também. Antes de voltar para a cama, resolveu dar mais uma verificada pela casa, caminhou até a sala e o relógio do video-cassete marcava 12:00 e ficava piscando, porque ele não sabia programar a hora do video-cassete, logo voltou a dormir.
Despertou às oito da manhã pra ir pro trabalho, trabalhou e na hora do almoço ligou para Maria Teresa, mas ela havia deixado o celular apagado porque estava com seu amante, já que Maria Teresa era uma baita de uma vaca que liberava pra geral e só Janaíno não percebia isso, mas deixemos isso pra lá, porque Maria Teresa dá o que é dela e nem tem nada a ver com essa história que é de fantasmas, como eu prometi no título.
Janaíno, no final do expediente ainda se sentia desconfortável pelo misterioso incidente da madrugada. Na verdade ele estava desconfortável por Maria Teresa passar a tarde inteira com o celular apagado, mas pensar no incidente da madrugada ajudava a desviar os maus pensamentos sobre sua namorada.
Foi no fim da tarde quando entrou Torquato e lhe deu a triste notícia:
- E aí, Janaíno, soube do Claudecir?
- É, ele não veio trabalhar hoje, que houve? Tá doente?
- Não, cara, ele faleceu.
Janaíno congelou. Claudecir, mais que um companheiro de trabalho, era seu amigo de infância. Na verdade na infância eles eram inimigos porque Claudecir era mais velho e gostava de lhe dar cascudos, baixar suas calças e borrifar desodorante no seu saco, roubar sua merenda e espalhar pras meninas que ele era gay, enfim, Claudecir não valia porra nenhuma, mas então, depois eles cresceram e viraram amigos, isso achava Janaíno, entretanto Claudecir era um dos que passava o cerol na Maria Teresa, mas deixemos a alma do falecido Claudecir em paz, e a pobre da Maria Teresa que já entrou duas vezes na história que não é dela.
Janaíno primeiro se abalou com a notícia, logo, num lampejo de lucidez lembrou-se do incidente da madrugada anterior e não conseguiu deixar de entrelaçar os dois fatos, então se sentiu confortável e coberto de ternura.
- Mas, Torquato, que horas que ele morreu?
- Ah, foi meio-dia e meia, por aí.
- Tem certeza?
- É, foi pelo comecinho da tarde, pô.
- Mas, não seria possível que ele tivesse morte cerebral de madrugada e morresse definitivamente só ao meio-dia?
- Não cara, ele não entrou em coma, morreu direto. Bateu o carro e tinha massa cinzenta até na calçada. E de madrugada ele tava vivo, tava na boate comigo. Eu, ele, Pereba, Tripinha e a Maria Ter... isso. Eu, ele, Pereba e Tripinha. Que foi? Fez cara de desconsolado depois que falei que ele morreu meio dia?
- Nada, deixa..
- Fala, pô ..
- É que pensei que ele tivesse morrido de madrugada ...
- E que diferença faz?
- Nada, ué. Me deixa.
- Ih, tá nervosinha? Tenho culpa do cara morrer meio-dia e meia?
- Porra, me deixa em paz.
- Ah, ô, vai tomar no cu.
- Tomar no cu você, porra.
Ah, o fantasma da história? Tava na cabeça do Janaíno, ele é desses que acredita em tudo, até na Maria Teresa.
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