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7 de outubro de 2008

 

Caminhando, caminhando... e eis que eu fiz uma piada!


Sim, eu fiz uma piada e vou contá-la nesse texto. Uma daquelas minhas piadas que vocês já estão acostumados, mas isso é o de menos, o importante foi o caminho que eu segui até chegar a ela.

Durante esses dias de ausência nesse blog coloquei toda minha vida em xeque: meu trabalho, minhas convicções, minha permanência na Europa, meu círculo social, minha meia colorida de bichinhos e obviamente a existência do Hombre Maíz.

Não sou supersticioso, mas pode ter alguma relação com minha visita a Santiago de Compostela, dizem que quem peregrina pra lá sempre volta com outras idéias e disposto a mudar de vida. Daí você diz: - Opa! Pera lá! Peregrinação? Você mesmo contou no blog que foi pra lá de trem e que demorou vinte minutos! - Daí eu respondo: E a cidade, como um ser abstrato, sabe lá por acaso se eu vim de trem, ou de camelo, ou de patinete? Se a lenda é que as pessoas que vão a Santiago recebem uma revelação eu não tenho culpa de ter encontrado um meio mais cômodo, ou vocês acham que o espírito do apóstolo fica lá perdendo seu tempo fazendo uma lista dos passageiros do trem pra não revelar nada pra eles. E pra distinguir o pessoal do trem dos peregrinos no meio daquela muvuca toda? Mais fácil revelar pra todo mundo que chega até lá. Mas, então eu ia contar uma piada.

Eis que a revelação não veio no momento exato de minha chegada à cidade, ficou guardada para um momento mais oportuno, quando eu pensei que já tinha jogado a toalha e estava disposto a aceitar nossa condição humana de fruto do acaso do Big Bang, caminhando, caminhando por aí cheguei a uma praça. Uma praça com uma escola e de frente pra escola um banco de praça. Parecia tudo armado para a revelação: Naquele banco de praça havia uma adolescente virgem (da narina esquerda) acompanhada de três amigos da mesma idade. Quis o destino que meu caminho cruzasse com aquela estreita passagem entre o banco e o portão da escola.

Já fui adolescente, sei como eles pensam. Eu, um sujeito até então resignado à minha inutilidade caminhando cabisbaixo, solitário e inseguro era alvo fácil para uma piadinha. Eu sentia que eles iam aprontar alguma assim que eu passasse por eles e era tarde demais pra dar meia-volta. Respirei fundo e continuei minha marcha moribunda. "Que será que eles vão dizer?", pensava. "Meu cabelo? Minha roupa? Minha barba? De onde eles vão tirar motivo pra uma gracinha?" Tentava inutilmente fazer uma rápida avaliação de mim mesmo antes de encarar meus algozes, "meu zíper não está aberto, não tem nada em mim que possa ser motivo de piada. Que será que eles vão inventar?" Pensava a vinte metros do banco de praça, foi quando decidi deixar o acaso decidir, baixei a cabeça e passei em frente aos meninotes torcendo pra que aquela agonia acabasse de uma vez. Já havia recém ultrapassado o banco e nada de gracinha. "Cadê a gracinha?" Questionava. "Ah, é agora que eles vão dizer algo, esqueci que gostam de falar por trás, pra dar tempo de correr" Mas, nada. Já havia passado uns dez passos do portão da escola e o silêncio ainda reinava, parecia que dessa vez iria me safar, respirei confiante e apertei o passo, foi quando ouvi uma vozinha bem fininha e debochada:

- Cabeza Cono!

Soou como uma cabeçada no pau do nariz. Eu esperava tudo, menos isso. Cabeça de cone é sacanagem! Nego tava exagerando. Fala do meu nariz, fala das minhas costeletas, mas não zoa minha cabeça que eu fico puto, mais ainda pela falta de nexo da ofensa, visto que eu tenho tanto cabelo que é impossível alguém adivinhar o formato da minha cabeça (não é de cone, juro).

Aquilo foi demais até pra um sujeito resignado, pensei em voltar lá nos moleques e distribuir safanões, ou pelo menos botar dedo na cara: - Cabeza cono un carajo! Hijoputa! Cheguei a diminuir o passo, levantei a cabeça disposto a voltar no banco e então vi a revelação a alguns passos a minha frente: Um homem com uma verdadeira cabeça de cone!

Não era dirigida a mim a ofensa, e sim ao verdadeiro cabeza cono que provavelmente passou junto comigo pelo portão da escola, e eu como estava de cabeça baixa esperando o pior não o vi passar.

Acelerei mais ainda o passo disposto a alcançar o cabeza cono e poder ver seu rosto de frente. Quanto mais me aproximava, mais crua se tornava a mensagem: Aquele homem realmente tinha uma cabeça de cone, não foi uma metáfora dos meninos, foi uma constatação (nem por isso menos cruel e mal educada)! Muitos apelidos surgem do exagero, mas aquele veio do óbvio, pra se ter uma idéia figurativa da situação, digamos que o cabeza cono era como esse cara aqui:




E essa era a revelação que o apóstolo havia guardado pra mim: O mundo foi pras cucuias! As pessoas perderam o limite. Chamar de cabeza cono um sujeito que realmente tem uma cabeça de cone é cruel demais. É como passar por uma pessoa em cadeira de rodas e gritar "Acelera, Ayrton!" Aqueles estudantes (?) eram o reflexo da nossa sociedade. Provavelmente teriam debochado de um cego ou de um perneta se tivessem a oportunidade de cruzar com um naquele dia.

Se você parar para analisar os apelidos das pessoas que formam seu círculo social, verá que eles seguem duas regras:

1 - Exagerar o detalhe

2 - Minimizar o exagero

Por isso chamamos carinhosamente alguém completamente cego de "ceguinho", enquanto o amigo que tem uns míseros graus de miopia é quatro-olhos!

No meu antigo bairro tinha um menino que não só era deficiente mental como também tinha o rosto deformado, tipo achatado como se tivessem dado com uma frigideira na cara. Era conhecido carinhosamente como Leandro Maluquinho. Só isso. Como se ele fosse um sapequinha como o personagem do Ziraldo. Todo mundo sabia que não era assim, que de maluquinho ele não tinha nada, tinha era uma noção bem escassa da realidade a ponto de uma vez ter empurrado um amigo nosso de cima de um muro fazendo o garoto quebrar os dez dedos dos pés. Ainda assim ele era só o Leandro Maluquinho. Por outro lado um amigo nosso completamente saudável salvo o fato de gostar de video-game um pouquinho mais do que as demais pessoas era chamado abertamente de Junior Lerdão. Ai de quem chamasse o Leandro de lerdão e pobre de quem chamasse o Junior de maluquinho. Lembra que eu ia contar uma piada?

Essa era a lógica que faltava naqueles garotos do banco. O episódio foi como um chamado, um alerta! Um alerta sobre o abismo do bizarro que nos rodea. Bizarro como quando eu conheci um homem em Ibiza que era famoso em toda ilha por ter pego Aids do Freedie Mercury. Bizarro como quando eu descobri que quase todos os raps que eu gosto são cantados por caras brancos. Bizarro como olhar pra dentro de si e reconhecer que você envelhece mas sua fantasia sexual mais ativa ainda é uma loira peituda fazendo um cachorro-quente com seu pênis. O mundo é bizarro! O mundo é Eric Moussambani cruzando uma piscina olímpica com a cabeça fora d'agua. É a Angélica cantando Cranberries. A vida é cruel como um Brasil x França e Santiago, o apóstolo, queria que eu fizesse algo.

Olhei pra dentro de mim e vi que precisava me reformular pra mudar o mundo de dentro pra fora. Precisava me superar, me destacar. Levo sete anos em hotelaria e ela seria a mesma com ou sem mim. Precisava começar a deixar minhas primeiras marcas, por mais pequenas que fossem. Tinha que abandonar a hotelaria, mas deixar um registro, então mergulhei nos confins de mim mesmo, meditei e inventei três sabores de milk-shake e um cocktail que eu batizei com o nome de Velha de camisola sem calcinha, ainda que eu saiba que acabará sendo abreviado por Velha de Camisola (receita no fim do texto, depois da piada) para pelo menos ter a certeza que meu nome figuraria em alguma obra na posteridade (como o menu da cafeteria onde eu trabalho, por exemplo). Pronto, minha contribuição pra hotelaria estava completa, faltava o mundo (e a piada, sem esquecer da piada).

Então vi que eu tinha que buscar aquilo que eu era bom e fazer disso uma arma contra o absurdo. E no que eu sou bom? Fazer piadas, lógico! Ja fiz umas sessenta, e de graça! Por que havia parado? Como pude ser tão descuidado com meu verdadeiro dom? Santiago, o apóstolo me mostrou o caminho e eu compartilho com vocês, agora que já sabem os tortuosos caminhos que tive que atravessar para elaborar essa magnífica piada, espero que desfrutem:

- Por quê o tenista ficou feliz por ter ganho uma partida contra uma saudita de dois metros?


Resposta: Por ter vencido um grande islã! Hahahahahahhaahahahahah Nossa Senhora! Valeu Santiago, querido apóstolo, sem você eu não teria conseguido!



Receitas:

Milk-Shake de Banana Frita

- 1 banana
- 5 nozes
- 3 bolas de sorvete de nata ou creme
- Leite

Corte a banana em duas (no sentido longitudinal, creio) e frite. Logo coloque no liquidificador com o resto dos ingredientes e bata.


Milk-Shake de Baunilha com canela

- Três bolas de sorvete de baunilha
- 3 biscoitos de canela (o que vc preferir, já que o que eu uso não tem no Brasil)
- Leite

Bata tudo no liquidificador e decore com um pouco de canela em pó.


Milk-Shake de morango com pimenta

- Três bolas de sorvete de nata ou creme
- Cointreau
- Açúcar
-Meio limão
- Pimenta negra em pó.
- Uma caixa de morangos
- Leite

Primeiro você deve flambear os morangos no cointrau com o suco do meio limão e uma xícara de açúcar até obter uma calda espessa.

Uma vez obtida a calda, misture um pouquinho da mesma junto com o sorvete e um pouco de pimenta a gosto e leite. bata tudo no liquidificador.


Velha de Camisola Sem Calcinha

- Oito uvas roxas
- meio limão cortado em três partes
- Açúcar
- Gelo picado
- Uma garrafa de Whisky Peché. Isso aqui:







Amasse num copo as uvas e os três gomos de limão junto com o açúcar. Adicione gelo até a boca do copo. Complete com o whiky peché até aproximadamente um dedo da boca do copo. Remexa com uma colher ou bata na coctelera e sirva.

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Comments:
A descrição dessa praça/pátio e o banquinho se parece com aquela do encontro do Neo com o Oráculo, em Matriz 2. E eu ri pra burro (zurrei?) com a tua piada! Seguindo tua lógica, chegar ao topo do Aconcágua de helicóptero tem o mesmo valor que se esfolar escalando um paredão de rocha e gelo. E que tecnicamente, punheta e sexo são a mesma coisa, pois já que o resultado final é uma gosma e... acabou o espaço! :-D
 
Amiguinho, que voce tinha talento para escrever, para fazer piada, eu sabia, nao conhecia seu talento para criar coquetéis, mas agora vendo o nome

Velha de camisola sem calcinha

... nada de bom me vem a mente, o que houve, o coquetel ficou um lixo??? HAHAHAHAHAHA

(Quanto às crianças, é publico e notorio que a ultima geraçao com um pingo de bom senso nasceu em 1987, dai pra frente so restou o abismo que voce presenciou).
 
oba, el hombre maiz voltou. Saudades!
 
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