29 de janeiro de 2010
Diálogos
O glorioso duas caras
-Mas, então.. faz um tempo já que eu não falo com ele. Mais de um ano.
- E isso por quê?
-Ah, cansei desse cara, acho ele super falso.
- Sério?
- É, sabe essas pessoas que querem sempre estar do lado que tá ganhando? Ele é assim.
-Ah, mas ele é botafoguense, pô.
- E daí?
- Já não basta o time dele perdendo tudo!? É óbvio que qualquer oportunidade que ele tiver de estar do lado que tá ganhando ele vai aproveitar. Ninguém aguenta perder sempre.
Brincando com os números
- Tá procurando o quê?
- Um papel que eu tinha anotado um numero de identificação de uma compra que fiz pela net.
- É esse aqui? 107056...
-Não, esses são os números que eu to anotando de acordo com minhas fezes.
- Como é que é?
- Agora sempre que vou ao banheiro eu olho pro que eu deixei na privada e busco qual numero mais parecido com aquela forma. Depois anoto nesse papel.
- Pra quê?
- Ainda não decidi, mas tenho pra mim que vai ser útil um dia.
- Mentira que você conseguiu cagar um 5.
-É, mas foi em algarismo romano.Na verdade foi um V.
- Não sei se já te contei, mas tem horas que você me assusta um pouco.
- Já contou sim.
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17 de janeiro de 2010
E se Avatar fosse feito por outro diretor?
Woody Allen - Jake Sully seria un senhor franzinho de 75 anos, de fato seria o único avatar de óculos em toda Pandora. Enquanto Neytiri seria uma ingênua ninfomaníaca de 17 anos. Ele convenceria ela que não faz muito sentido ficar rezando pra uma árvore e que aquela vida no meio do mato era meio desconfortável. Depois de convencê-la que a ama apesar dela ser uma ignorante e fútil aborígene, a levaria para a Terra onde iriam morar em Manhattan que tem bons psicanalistas, restaurantes e concertos de Jazz.
Almodóvar - Jake Sully seria um rapaz atormentado por uma infância traumática em que foi sodomizado continuamente por seu pai, até o dia em que conseguiu fugir e refugiar-se num colégio de Padres onde passou então a ser sodomizado pelos padres, bispos e até os coroinhas. Neytiri seria um travesti viciado em heroína. O elo entre os Na'vis e os animais não seria feito com a ponta do cabelo, seria com outra parte do corpo e vocês sabem muito bem do que estou falando.
José Padilha - A preparação de Jake Sully para se tornar um omaticaya não seria aprendendo a montar animais da floresta ou sentir a natureza. Ele seria entregue a um grupo de guerreiro chefeados por Tsu'tey que lhe encheriam de porrada dizendo "pede pra sair!", além de chamá-lo de fanfarrão cada vez que solicitasse mais do que 15 segundos para almoçar sua visceras cruas de Thanator. Quando Jake informasse que no princípio era um informante da gente do céu, Tsu'tey diria "Tira essa pele azul porque você não é omaticaya, você é moleque! Ouviu? Moleque!"
Fernando Meirelles - Na cena em que Jake Sully é levado pela primeira vez à tribo dos omaticayas ainda visto com suspeitas por estes, Tsu'tey ia falar: "Tu não é homem pra caralho? Então tira a roupa aí e fica e bundinha pra galera", ao que Jake provavelmente responderia "Grandes merda! Se vocês mesmos já estão tudo de bunda de fora. Só vamos empatar". No final, quando os humanos regressassem à Terra informariam que haviam aprendido muito com os Na'Vis e que deveriamos deixar de destruir nosso planeta, ao que uma multidão lhe responderia "E quem foi que disse que a Terra é sua? Ataque Soviético nele!"
Tarantino - Na cena em que Jake Sully e Grace estão amarrados, apareceria um omaticaya muito boladão com uma navalha e cortaria a orelha dos dois enquanto dança uma música do Bob Dylan. Depois se reuniria com seus outros capangas e discutiria um tema inutil como holandeses colocando maionese na batata-frita, a letra de uma musica da Madonna ou se deveriamos comer carne de porco.
Glauber Rocha - Você não ia entender o filme.
5 de janeiro de 2010
O dia e a noite
(puxando papo com a garçonete que trabalhava na cafeteria ao lado da minha)
- E então, faz tempo que você trabalha aí?
- Faz mais de um ano. Você é novo aí, não?
- É, comecei semana passada. Gosta do trabalho?
- Ah, não reclamo não. O único chato é o horário. Começo meio- dia e fico até as quatro. daí às 8 da noite eu tenho que voltar e ficar até fechar.
- Ah, horário partido é chato mesmo, perde o dia inteiro. Ainda bem que eu tenho turno seguido.
- Você faz turno seguido?
- É.
- Pensei que também fazia horário partido.
-Ahá!! Quer dizer que pensou em mim!
- Faz mais de um ano. Você é novo aí, não?
- É, comecei semana passada. Gosta do trabalho?
- Ah, não reclamo não. O único chato é o horário. Começo meio- dia e fico até as quatro. daí às 8 da noite eu tenho que voltar e ficar até fechar.
- Ah, horário partido é chato mesmo, perde o dia inteiro. Ainda bem que eu tenho turno seguido.
- Você faz turno seguido?
- É.
- Pensei que também fazia horário partido.
-Ahá!! Quer dizer que pensou em mim!
Outras eu dou umas mancadas fenomenais:
(Puxando papo com uma jovem cadeirante. Desconfiava que era a mesma que eu havia visto na noite anterior no teatro)
- Então, fez o quê no sábado?
- Nada, fiquei em casa. E você?
- Fui ao teatro.
- Que tinha lá?
- Ópera. Il Trovatore. Sério que você não foi? Poxa, eu jurava que você tinha ido.
- Não, fiquei vendo filme mesmo.
- Ainda por cima tinha uma moça lá que eu cheguei até a confundir contigo.
- Parecia comigo?
- Nem vi direito, tava escuro, mas é que ela também ia em cadeira de rodas.
16 de novembro de 2009
Eu não gosto de você
Aproveitar minha falta de assunto pra tentar criar uma série sobre tipos de pessoas que eu não gosto. Na verdade eu não gosto de quase ninguém, mas tem gente que se destaca mais, e é sobre isso que quero falar. Por exemplo, hoje vou comentar sobre pessoas que acreditam em alienígenas.
Eu verdadeiramente não tenho mais paciência para ufologia. Assim como a religião, isso é uma doença típica de gente ignorante, mas que pode chegar a atacar até pessoas cultas em alguns casos.
O primeiro que me chama a atenção em relatos de pessoas que viram ETs é o fato de que esses seres levam RG próprio do seu planeta. Está lá escrito Sr. Extraterreste Almeida Carvalho, filho de Dona ETenéia Almeida dos Santos com Sr. Alienígena Borges Carvalho. Se não for assim, como que uma pessoa que se depara a uma criatura desconhecida tem a certeza que ela veio de outro planeta? Não pode ser um bicho deformado? Uma experiência genética? Um animal erroneamente taxado como extinto? Você é biólogo, por acaso pra conhecer toda a fauna da Terra? A mesma coisa acontece com as aparições de OVNIs, qualquer luz diferente no céu é um OVNI. Não é avião, nem balão, nem satélite, nem cometa ...o sujeito sabe de astronomia e aviação tanto quanto eu sei de alcaparras, mas afirma com toda autoridade que o que ele viu é uma nave pilotada por um alienigena. Todas as possibilidades mais cabíveis são descartadas pra dar veracidade ao relato, isso é uma constante em toda suposta experiência com UFOs.
Um exemplo claro do que eu falei acima é um conhecido blogueiro bastante inteligente, mas que tem esse fascinio irracional por ETs. Outro dia no blog dele o sujeito comentava de um caso exposto num jornal em que um homem foi dormir e acordou misteriosamente no topo de uma pequena montanha sem saber como foi parar ali. Obviamente, como tudo que tem uma explicação racional complicada, essa lacuna é preenchida com espíritos ou alienígenas, nesse caso ficou com a segunda opção. Pra galera UFO esse era um caso claro de abdução. Reparem que os ETs são uma espécie de João Kléber, eles abduzem o cara da casa dele e recolocam num topo de uma montanha só pra ver a reação do malaco quando acordar, é tipo uma pegadinha, em algum planeta distante está um João Kléber versão intergalática dando risadas da cara do pobre rapaz. Ou alguém vê alguma razão lógica para um ET te tirar de casa e voltar a colocar num lugar remoto alguns instantes depois?
Eis que alguns céticos tentaram utilizar a caixa de comentários do rapaz pra alertar sobre outras possiveis explicações para o fato. Sonambulismo, por exemplo. A resposta foi essa: "Realmente, depois da abdução, o sonambulismo é a hipótese mais plausível". Claro, a abdução não está nem entre as 200 melhores hipóteses, eu poderia plantear que um elefante veio nadando da África até o Brasil, foi andando inadvertidamente até a casa do suposto abduzido, o agarrou com a tromba, colocou nas costas, subiu a pequena montanha, baixou o jeca ali e voltou pra África. E queiram ou não, essa hipótese é mais plausível que abdução do ET João Kléber já que ela possui várias evidências: a existência comprovada de elefantes que sabem nadar, vivem na África e agarram pessoas com a tromba, já as evidênicas a favor dos ETs são nulas.
Outro dia eu discutia com um amigo que queria me convencer que Barack Obama possuía um ET (de estimação provavelmente). Eu, gentilmente, com todo carinho, como se explicasse a uma velhinha ignorante pra caralho criada toda a vida em Itacarapapicetinga do Leste numa casa iluminada a querosene, contei sobre o número aproximado de planetas existentes e a distância entre eles, fiz um cálculo meio arbitrário entre esse número e a probabilidade de que vida surja em algum planeta só para termos uma idéia de quantos planetas aproximadamente são habitados por algum organismo por mais primitivo que seja, logo peguei esse número e fiz outro cálculo arbitrário para saber quantos desses planetas habitados possuiriam seres dotados de consciência, e o resultado foi 2 (e me pareceu otimista) sendo que um tinha que ser o nosso, senão não estaríamos discutindo aquilo.
Logo expliquei sobre a idade geológica da Terra que é de uns 4 bilhões de anos e que o homo sapiens sapiens está aqui há uns 100 000 anos, ou seja, um pequeno detalhe na história desse planeta e que ainda que os ETs escolhessem visitar a Terra podendo escolher entre outros 100 trilhões de planetas, eles poderiam ter aparecido aqui há dois bilhões de anos atrás e terem ido embora sem encontrar nada de interessante, já que a Terra por essa época era mais entediante que Cuiabá numa segunda-feira às 3 da tarde.
Pra terminar, falei que ainda que fossemos visitados por algum alien, ele nunca teria a forma descrita nos relatos de supostos avistamentos de ETs, onde vemos criaturas quase humanas com dois braços, duas pernas, dois olhos, um nariz, uma boca ... Expliquei que um ser que evoluiu em outro planeta, outro ambiente, outros elementos químicos, outros predadores e outras presas jamais evoluiria para a forma humana, que nós somos assim não porque papai do céus nos fez assim, e sim porque foi a melhor forma encontrada para a nossa sobrevivência através de todo um processo chamado seleção natural que ele deveria conhecer porque não era uma velhinha do sertão numa casa iluminada por querosene. Depois de todo meu gentil esforço, o qual imaginei que era bem vindo, eis que o iletrado me pergunta:
- Ok, agora vamos supor que tudo isso que você me falou é falso. O que temos então?
Nesse caso o que temos é um completo ignorante, praticamente um bovino. Temos a certeza de tempo perdido tentando explicar Teoria da Evolução a um rinoceronte. Deu a impressão que eu bebi demais e não reparei o momento em que trocaram meu interlocutor por um quadrúpede. Se para satisfazer a sua hipótese temos que ir em contra de toda a ciência conhecida, então ela é falsa. Toda a ciência do mundo não está errada só para você estar certo, aceite esse fato.
Essa foi minha última experiência frustante com um adorador de ETs, e a definitiva para incluir essa raça na minha lista. Gosta de Aliens? Cara de Milho te despreza.
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4 de novembro de 2009
4 anos sem tirar
Pouca gente sabe (na verdade, só eu sei), mas Cara de Milho completa hoje 4 anos no ar. Infelizmente não conservo a mesma detrminação dos primeiros meses, que me levava a postar até três posts num único dia, mas é que certas prioridades foram aparecendo no curso desses anos. Ainda assim, não houve um único dia que me arrependesse de ter criado El Hombre Maíz, mais ainda quando lembro das pessoas que conheci através dele.
Devido a certa crise criativa, isso é tudo que posso escrever hoje. Amo vocês, até aqueles evangélicos que entram no post do Tio Chico e me condenam ao fogo eterno. Amo, amo muito.
29 de outubro de 2009
Diálogos
- Então você não acredita em Deus?
- Não.
- E se ele aparecesse pra você?
- Buscaria um psiquiatra.
- E se o psiquiatra dissesse que você não estava louco.
- Então o louco era eu e o psiquiatra.
- Mas e se ele realmente provasse que era Deus. Tipo dizendo coisas sobre você que só você pode saber.
- Ah, então seria uma prova cabal que era um produto da minha cabeça. Por outro lado, se ele dissesse coisas que eu nunca soube seria impossível ser gerado pela minha mente, logo eu poderia, por exemplo, pedir que ele cante Meu pintinho amarelinho em sueco, euskera, hebraico, mandarim e javanês. Como eu não conheço nenhuma palavra nesses idiomas seria impossível eu projetar uma ilusão que falasse tais línguas. Depois iria buscar pessoas que falassem esses idiomas e repetisse o que o suposto Deus teria cantado, caso a tradução fosse realmente "Meu pintinho amarelinho cabe aqui na minha mão...", ficaria provado pelo menos momentaneamente que aquele Deus não era fruto de minha imaginação, mas ainda assim eu ia considerar outras possibilidades.
- Ou seja, que o criador do universo tá na tua frente e não te ocorre nada melhor que pedir que ele cante Meu pintinho amarelinho em cinco idiomas?
- Ao princípio, sim.
- Ai, quanta blasfêmia!
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21 de outubro de 2009
Para ler e cantar
To sabendo aí que o tal de Rafael Polegar voltou a aprontar. Dessa vez foi visto tentando se suicidar com uma faca no pescoço dentro de um elevador, mas foi contido pela PM. Fontes minhas me disponibilizaram o áudio da negociação e eu transcrevo pra vocês:
Rafael, recapacita, cara! Olha o que você tá fazendo! O que sua mãe vai pensar?
- Ela não liga, ela não liga
Ela não liga, Ela não liga pra mim.
Eu sou um carro, ela não guia
Sou um cigarro, ela não fuma
Eu tô na dela, ela tá numa
Eu tô de noite, ela de dia
Eu viro rádio, ela não liga
Eu peço um gesto, ela faz figa
Toco guitarra e bateria, ela só ouve sinfonia.
- Puta merda? Esse verso é seu? (E eu pedindo que ele não se mate, vai entender!)... mas então, Rafael, muito bonita sua letra, dá pra ver que você é um cara talentoso. Dê valor à sua vida! Como você mesmo dizia: Não se deprima! Não se deprima!
- Essa é dos Menudos, e é Reprima.
- Certo, certo! Mas fala, por que você quer fazer isso?
-É que Dizem que estou desmiolado
que perdi minha razão
que eu to batendo pino,nada vê
Dizem que estou alucinado
- Não liga não e vem
Dá pra mim essa faca! Dá pra mim!
Não se preocupe que eu serei um bom rapaz
- Não...
- Dá pra mim, porra!
- Tá nervoso é?
- Não é por nada não, mas é que são duas da manhã eu queria estar com minha família e tenho que estar aqui te convencendo a não se matar.
É por você que eu perco o sono
É por você que eu ando doido
Dá essa faca pra mim ohohoohoyeah!
- ohohyeah?
- Me empolguei.
(soa o rádio do policial)
- A situação tá sob controle?
- Sim, tem horas que ele tropeça nas palavras e começa a gaguejar e fica afo-baba-do se me vê , mas no geral tá tudo ok.
- Tá, se precisar de reforços me avisa.
(rádio desligado)
- Então Rafael, pela última vez:
Dá pra mim essa faca! Dá pra mim
Prometo que vou ser um bom rapaz
- Tá bom, toma.
- ah, ótimo. Desistiu, né? Queria só chamar atenção.
- Não é isso, é que descobri que
sou um lunático apaixonado ou qualquer coisa assim
Sou como sou
Aonde vou eu acho a minha saída
Sou como sou e seguirei a vida é pra ser vivida
Sou como sou e viver é melhor medida
Sou como sou
- Me empolguei.
(soa o rádio do policial)
- A situação tá sob controle?
- Sim, tem horas que ele tropeça nas palavras e começa a gaguejar e fica afo-baba-do se me vê , mas no geral tá tudo ok.
- Tá, se precisar de reforços me avisa.
(rádio desligado)
- Então Rafael, pela última vez:
Dá pra mim essa faca! Dá pra mim
Prometo que vou ser um bom rapaz
- Tá bom, toma.
- ah, ótimo. Desistiu, né? Queria só chamar atenção.
- Não é isso, é que descobri que
sou um lunático apaixonado ou qualquer coisa assim
Sou como sou
Aonde vou eu acho a minha saída
Sou como sou e seguirei a vida é pra ser vivida
Sou como sou e viver é melhor medida
Sou como sou
6 de outubro de 2009
Ensaio sobre a falta que um guarda chuva não faz.
Eu nunca contei aqui, mas tenho uma certa aversão aos guarda chuvas. Sempre que comento isso com alguém, me pedem uma explicação lógica, e eu sempre desconverso, digo que simplesmente consigo viver sem eles, mas a verdade é que eu tenho tantos motivos que não saberia escolher o primeiro a comentar, por isso dou essa abreviada no assunto. Só hoje resolvi sentar e enumerar detalhadamente minhas mágoas contra esse ser inanimado.
1 - Não é uma invenção, é uma improvisação.
Pouca gente sabe, mas o guarda chuva nunca foi inventado por ninguém, ele é uma improvisação da sombrinha. Geralmente achamos o contrário, já que hoje em dia quase não vemos ninguém usando sombrinha, mas ela veio primero. As pessoas tomaram chuva sem nenhum problema até dois séculos atrás quando começaram a aparecer os tecidos impermeáveis e alguém teve a idéia de cobrir uma sobrinha com esse tecido. Só o fato de que a chuva existe desde que o mundo é mundo, e que a humanidade até o século XIX cagou e andou para bolar um meio de se defender dela já mostra o quanto esse objeto é inútil.
2 - Falsa sensação de proteção.
O guarda chuva parte da premissa que chove em linha reta, as ruas são planas e o solo absorve a água um milésimo de segundo após entrar em contato com ela. Quando você sai na chuva você pode escorregar no chão molhado, pode pisar em poças d'agua imundas cheias de xixi de rato que te vão trazer leptospirose, escarlatina, ebola e câncer de intestino. Suas calças vão molhar também, e se forem Jeans elas não vão secar e você vai ficar com aquilo molhado no corpo o dia inteiro. Grande parte da sua camisa também molha. O único que fica protegido é a sua cabeça, que é o menos importante, basta secar com uma toalha quando chegar em casa. A pessoa quando usa um guarda chuva está mais propensa a pegar uma gripe porque ao chegar em casa com a cabeça seca transmite a sensação de que o corpo também está, e fica ali com a roupa úmeda no corpo. Já o cara que sai sem guarda chuva e chega em casa encharcado, ele simplesmente bota toda a roupa pra lavar e se seca.
3 - Você realmente não precisa dele
Moro em uma cidade com um dos maiores índices pluviométricos da Europa e vivo feliz sem guarda chuva. Quando a chuva me surpreende no caminho eu simplesmente me meto dentro de algum bar. Se tenho algum compromisso vou me esgueirando pelas marquises. Aliás, uma grande prova da inutilidade dos guarda chuvas é que eu sempre tenho que compartir essas marquises com pessoas equipadas desse objeto horrendo.
nota: Antes de passar pro próximo ponto deixa só eu botar um adendo, já que eu falei de marquises. Pra mim essa é uma das palavras mais bonitas da nossa língua (tá, é um estrangeirismo, mas já está aportuguesada). Além de outro detalhe importante, que provavelmente nunca uma palavra tão bonita foi usada pra algo tão vulgar. Quando eu era pequeno e ouvia essa palavra eu imaginava várias coisas, menos que estivesse relacionado com a construção civil. Destoa tanto como se ao invés de dizer carburador disséssemos champignon.
4 -Você não gosta dele
Não há objeto mais esquecido no mundo do que um guarda chuva. Em todas as cafeterias que trabalhei aqui em La Coruña podíamos fazer uma coleção com os guarda chuvas esquecidos pelos clientes. Dava até pra abrir uma lojinha no E-Bay. Acho impossível que as pessoas façam tão pouco caso a esse objeto se ele tivesse alguma importância.
5 - Vida útil mais curta que a de um hamster.
Faça um teste: compre um guarda chuva, um hamster, um peixinho desses que venda na feira dentro de uma bolsinha plástica e um mini game de 990 jogos de uma lojinha de 1,99. Eu aposto que o guarda chuva bate as botas primeiro. Você obviamente está pensando que eu me refiro àqueles comprados no camelô, mas eu afirmo que todo guarda chuva termina assim:
Nem mesmo se você tiver dinheiro pra cacete e puder pagar mais do que 10 reais num guarda chuvas que vai durar três chuvas você está livre disso. Ou você acha que George Bush compra guarda chuva em camelô? Olha o que aconteceu com o dele:
Detalhe para a cara do Putin. Vladmir Putin te despreza.
6 - Trauma de infância.
Quado eu era criança e tinha que ir pra aula num dia chuvoso, meus pais me faziam levar um guarda chuva. Até aí, nada de muito traumático, o problema era a peça que eles me disponibilizavam. Era um treco colorido, com cabo de madeira, com a tela soltando em vários pontos e que nem sequer tinha aquele botãozinho para abrir automaticamente. Era no braço mesmo, e a maioria das vezes eu prendia o dedo. Eu chegava na escola com aquilo, enquanto meus amigos reluziam seus guarda chuvas negros padronizados e as meninas gabavam-se com seus horrendos, mas pelo menos modernos na época, guarda chuvas brancos com foto da Madonna que estavam totalmente in nos anos 90. Sente a deprê:
Alguns ainda tinham o cabo com desenho de cabeça de ganso. Eu odeio minha geração, sinto muito.
Daí então na escola eu era vítima de bulling por causa desse puto instrumento. Diziam que eu levava o guarda chuva da vovó. Ainda lembro o dia que passei no fliperama depois da aula carregando esse troço e quase fui linchado. Por muito tempo não culpei meus pais por isso porque achei que era por falta de grana, mas quando cresci pro mundo e descobri que um guarda chuva não é muito mais caro que uma caneta bic (e eu já tive várias canetas bic), acho que eles foram desleixados nesse ponto.
Enfim, de todos os motivos supracitados acho que esse último foi o que mais contribuiu para moldear minha personalidade hoje. Prometi a mim mesmo que quando crescesse nunca andaria com guarda chuva e aqui estou feliz e levemente molhado.
28 de agosto de 2009
Coisas que socializam
Estava eu na fila do caixa do supermercado, atrás de mim estava uma senhora de idade com seu carrinho mais ou menos cheio, até que apareceu uma outra senhora aparentemente da mesma idade e perguntou se podia passar na frente, já que levava apenas dois pacotes. A senhora do carrinho meio cheio aceitou, porém com uma má vontade impressionante. Ficou ali de cara feia resignada até que a furona da fila comentou que tinha pressa porque tinha hora no médico, e que estava cheia de dores. Pronto, passou a raiva. As duas se animaram e começaram a falar de doenças que padeciam. Quando eu fui embora ainda estava alegremente comentando:
- E artrite? Artrite é terrível!
- Ai, nem me fale! Levo anos tratando a minha! Osteoporose você tem?
- Ô se tenho! E meu marido parece que tá com Alzheimer.
- Ai, Alzheimer é ruim demais. Meu irmão tem...
Tipo, foi então que cheguei à conclusão que há aspectos da vida que são profundamente socializantes, mas devemos estar atentos à faixa etária. Com velhinhas é fácil, falou de doença e já tem assunto pra tarde inteira.
Com pessoas mais jovens, o cigarro é um bom caminho. Por menos altruistas que o sujeito seja, não será com relação ao cigarro. Pode que não dê esmola, pode que não dê comida, mas um cigarrinho ninguém nega, mesmo para um completo desconhecido. Eu tenho um amigo que não fuma, mas usa do altruismo tabagista para paquerar meninas. É só ver uma mulher bonita fumando que vai lá pedir um cigarrinho e enquanto a moça vai catando o maço na bolsa ele vai puxando conversa. Se se aproximasse pedindo qualquer outra coisa a garota torceria o nariz.
Outra coisa socializante: maconha. É impressionante como os maconheiros são unidos. O cara não torce pelo teu time, não vota no teu candidato, não ouve teu tipo de música, no final vocês não tem nada em comum a não ser o fato que ambos são maconheiros, e isso basta pro cidadão te tratar como irmão. Eu sempre defendi que meu fracasso social radica no fato que eu não tomo drogas. Cansei de ver a facilidade que meus amigos que curtem uma marofa fazem novas amizades só puxando um beck. É algo como: "Pô, tu é maconheiro? Eu também sou, chega aí! Tu é parceiro então.." pronto, já estão saindo juntos, já é apresentado a outro grupo, enquanto os caretas vão levando sua vida sedentária.
Mais uma: livros. Saudáveis e socializantes. Criou-se uma mística tão grande em torno ao leitor e que ler é coisa de intelectual, que as pessoas adoram comentar sobre o que estão lendo. Aliás, é meu único refúgio para começar um contato com um desconhecido, mas ainda assim é complicado. Tipo, maconha é maconha, mas há livros e livros; não é o mesmo puxar assunto com um leitora de Dostoievski que com um leitora de Zíbia Gasparetto. Então eu sempre tenho que ir me esgueirando de fininho tentando ler o título na capa do livro até fazer algum comentário que gere uma conversa. Outra desvantagem é que há mais maconheiros e fumantes do que leitores de bons livros. Uma das amigas que eu tenho a conheci assim. Ela ia na cafeteria onde eu trabalhava cada semana com um livro diferente até que um dia puxei assunto e agora além de amiga é conselheira literária.
Outra: camisa de banda. Pessoas acham que só porque você tem o mesmo gosto musical, então é gente boa. Cabe uma ressalva: a probabilidade de alguém vir te cumprimentar por estar vestindo a camisa de uma banda aumenta quanto mais "alternativa" for a mesma. Você com uma camisa do U2 vai cruzar com mil fãs da banda e passar inadvertido. Agora experimenta uma camisa do Tom Zé, que o primeiro que souber pelo menos o nome de três músicas dele vai te dar um abraço. E isso é explicável. Essas pessoas se acham parte de uma minoria seleta (eu me incluo) e oprimida pela música jabá, então quando veem alguém para compartilhar seu gosto por Arrigo Barnabé, Rogério Skylab ou Zumbi do Mato fora do orkut, ficam felizes.
Religião segue a mesma regra da camisa de banda. Só se for minoria. Dois mussulmanos de turbante se cruzam no Brasil e com certeza se aproximam. Já nos Emirados Árabes não acho que ser mussulmano gere tanto assunto. No meu caso é complicado, porque apesar de ser minoria (ateu), não tem nada que identifique ao ateu ao meu lado que compartimos da mesma descrença, talvez uma camisa com a foto de Richard Dawkins, mas é meio brega.
Ou seja, ou começo a fumar maconha socialmente ou terei que me resignar a buscar devoradoras de livros em lanchonetes por toda a vida pra me agrupar. Alguém tem alguma idéia de outros elementos socializantes para sugerir?
Marcadores: devaneios
25 de agosto de 2009
Follow that corn!
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